sábado, 8 de janeiro de 2011

Qual a interpretação correta do livro do Apocalipse?


Antes de falar nisto, deixe-me fazer uma consideração sobre parábolas e linguagem simbólica.
Durante o seu ministério, Jesus também falava muito por meio de símbolos – no que chamamos de parábolas. Uma explicação muito comum, mas equivocada sobre o uso de parábolas no ministério de Jesus, era que as parábolas supostamente facilitariam o entendimento da população que ouvia Jesus, já que transmitiam os ensinamentos por meio de comparações baseadas na vida comum de seus ouvintes. Tal explicação é incoerente com o ensino do próprio Jesus sobre o tema:
E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo, não ouvem nem entendem.”  (Mt 13:10-13)
Jesus não usava parábolas pra facilitar a compreensão das verdades espirituais, mas para dificultar. Para compreender uma parábola, era preciso muita reflexão. Uma pessoa que verdadeiramente buscasse a Deus iria pensar, refletir, buscar e perguntar até que ele consiga encontrar o real sentido do que Cristo ensinava. Tendo encontrado o significado, ele irá refletir sobre o ele até que ele consiga compreender o máximo possível sobre Deus mediante a nova informação adquirida. O que Jesus disse é que ele queria que o sentido da parábola tivesse aberto somente para aqueles que realmente tivessem o desejo de compreendê-las. Isso requer dedicação e esforço.
É devida justamente a sua natureza simbólica que não existe unanimidade na interpretação do Apocalipse, ainda que em meio aos melhores estudiosos. A dificuldade em compreender este livro é que a sua mensagem é quase inteiramente transmitida em símbolos. O famoso escritor Ambrose Bierce comentou com uma dose de humor sobre este livro, dizendo que João escondeu tudo o que sabia e que quem nos dá a revelação são comentaristas que nada sabem. Não é a toa que um conhecido costuma dizer que “escatologia é terra de ninguém”.
Diferentes linhas de interpretação têm sido defendidas por grandes nomes no Cristianismo por toda a história. O aconselhável é que você se informe sobre as principais correntes de interpretação até chegar a uma conclusão sobre o que acredita ser o mais bíblico. Por que não começar sua pesquisa com os mil anos de Apocalipse 20? Sobre isto, existem três correntes principais de interpretação:
1) Pré-Milenismo: É a corrente que defende que a Segunda Vinda de Jesus acontecerá antes (pré) do período de mil anos de Apocalipse 20. Acreditam que serão mil anos literais e será caracterizado por grande paz e prosperidade na terra devido à presença física de Jesus reinando. Alguns defensores notáveis do Pré-Milenismo: Justino Mártir, Irineu, Charles Spurgeon, John Darby, John McArthur, John Piper, Mark Driscoll, Billy Graham.
2) Amilenismo: É a corrente que defende que os mil anos de Apocalipse 20 não devem ser entendidos literalmente, mas é uma linguagem figurada para falar de toda a História da Igreja da Primeira até a Segunda Vinda de Cristo. Defendem que não devemos esperar nenhum período de paz ou prosperidade terrena como fruto desse Reino, mas que o Reino de Cristo é completamente espiritual, no coração dos cristãos. Alguns defensores notáveis do Amilenismo: Agostinho, Martinho Lutero, Heinrich Bullinger, Abraham Kuyper, Cornelius Van Til, Herman Hanko, R.C Sproul.
3) Pós-Milenismo: É a corrente que defende que os mil anos de Apocalipse 20 não devem ser entendidos literalmente, é uma linguagem figurada para falar de toda a História da Igreja, mas que acreditam que o que devemos esperar para a História da Igreja é a evangelização do mundo inteiro e o completo desenvolvimento social, econômico e cultural do mundo como fruto dessa evangelização. Acreditam que a Grande Comissão será bem sucedida e que a maior parte das pessoas do mundo será convertida. Alguns defensores notáveis do pós-milenismo: Atanásio, João Calvino, John Knox, a maioria dos puritanos, Jonathan Edwards, Kenneth Gentry, Gary DeMar, Gary North, David Chilton.
Não estamos afirmando que todas essas interpretações sejam igualmente corretas, pois a Bíblia sendo perfeita não poderia estar falando mais de uma coisa sobre o mesmo assunto. Estamos falando somente que não há consenso sobre isso; então, o melhor a fazer é estudar todas as opiniões e estudar bastante as Escrituras, com muita oração, para chegar a uma conclusão pessoal sobre qual sistema parece ser o mais bíblico. Para isso, não esqueça que, como a Confissão de Westminster comenta com muita razão, “na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos…” (I, 7).

Extraído do site Voltemos ao Evangelho , reproduzido sob permissão do autor

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ser gente

Shalom a todos!

Deixo com vocês um excelente texto do Igor, e faço dele as minhas palavras sobre o sentimento que tem preenchido meus pensamentos neste início de ano...

Boa leitura! 

É simples... aprendi que os aplausos não querem dizer nada. Aprendi que lisonjas não significam nada. Aprendi que status religioso ou de outra natureza é nulidade, vazio. Aprendi enfim, que se eu quero ser discípulo de Jesus de verdade, tenho que me abster dos grandes públicos, da ostentação.

Cansei deste papo do tipo "somos os caras". Cansei da pretensão doentia da afirmação de poder de que "estamos em um movimento revolucionário", chega de triunfalismo!

Meus triunfos verdadeiros não são públicos. Envolvem questões simples. Como por exemplo superar meu egoísmo de não querer ajudar minha esposa na cozinha quando a preguiça tenta me seduzir. Minhas guerras não envolvem "batalhas espirituais imaginárias" de principados e potestades e "atos proféticos" mobilizadores. A coisa é mais simples, ou melhor, mais complexa, envolve compreender Cristo, me alimentar de sua carne e sangue, para vencer a tentação da hipocrisia religiosa.

Não, provavelmente, vocês não me verão envolvido nas grandes mobilizações do mundo gospel, tão pouco, sendo chamado de apóstolo, rabino, bispo ou coisa do gênero. Mas, espero que escutem que sou um bom marido, um bom pai e principalmente um bom amigo. Se ao menos nestas coisa eu conseguir vencer a grande batalha, tenha-me por satisfeito. Entretanto, se um dia eu tiver que falar pra multidões a respeito de Cristo ou de qualquer outra coisa, quem estará lá não será um grande pregador ou acadêmico, será um homem que aprendeu a ser simplesmente gente.

Não quero ser tratado como artefato religioso, como parte do cenário religioso. Jesus me chamou e pronto, isto basta, isto é tudo. Nunca tive dias tão alegres em minha vida, não há um dia que não acordo e encaro os desafios diários em oração e ações de graças. Certamente se minha rotina não for um culto, o culto nunca se integrará a minha rotina.

Minha oração é que Deus continue travando minhas pretensões carnais, que Ele continue freando minhas megalomanias, meu egoísmo e narcisismo, todos estes ídolos que meu coração persiste em fabricar.

Eu não quero ser nada além daquilo que Deus deseja que eu seja.

Igor Miguel 

Texto extraído do blog Pensar, do amigo Igor Miguel