sábado, 26 de junho de 2010

Uma só carne parte 1


“Portanto deixará [soltará] o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á [apegar-se, grudar-se, ficar junto de – junta, solda] à sua mulher, e serão uma só carne” Gn 2.24
 
Qual o maior inimigo de um casamento?
Como você responderia a esta pergunta?fomentar as respostas diversas: dinheiro, falta de tempo, filhos, vida profissional, vida social, ativismo diverso (igreja, clubes, esportes, etc).
Qual o principal agente de destruição de lares hoje?
Traição, violência domestica, dificuldades financeiras, dificuldades de comunicação, falta de diálogo, desequilíbrio da divisão de tarefas, entre outros.
Mas haverá uma causa comum a tudo isso?
Há uma origem comum a tudo isso?
Há um texto interessante que diz:
“o meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” Os 4.6
Não por nenhum dos problemas acima listados, ainda que reais e presentes, mas pelo desconhecimento. Mas que conhecimento é este, o qual ignorado atrai a destruição?
Para compreendermos a profundidade disso, e sua aplicação para nós, é necessário compreender o plano original de Deus para o homem.
Muitas das respostas que tanto necessitamos podem ser encontradas ao estudar o início de tudo, ou o estado do homem antes da queda.
Qual era então o plano original de Deus para o casamento?
Vejamos o relato bíblico:
 “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra”. Gn 1.26
Nosso Deus é um ser relacional. Desde a criação de todas as coisas, Deus sempre quis estabelecer um elo de amor com a criação, através do relacionamento, tendência esta presente também no homem, desde que ele foi feito alma vivente.
Mas observe as bases pelo qual o relacionamento com o próximo deveria estar: o AMOR. É dado ao homem o domínio sobre todas as coisas, menos sobre seu semelhante. Portanto, o relacionamento deve estar pautado no AMOR, e não no controle e na manipulação. Os que ignoram este princípio procuram usar de subterfúgio na obtenção daquilo que querem - seja manipular a esposa para trocar o carro, seja a esposa usar o sexo como arma para conseguir o que deseja de seu marido.
Desde o principio, a vida humana seria fundamentada na relação: primeiro com Deus, depois com a criação...e num terceiro momento, com mais alguém...
Vejamos o relato bíblico:
“E disse o Eterno Deus: “Não é bom que o homem esteja só [por si mesmo]; far-lhe-ei uma ajudadora [apoio] frente a ele”.” Gn 2.18
Entretanto, num primeiro momento o homem viu-se só e, na ocasião onde ele dá nomes aos animais, sua condição até então solitária é reconhecida. Enquanto ser humano, mesmo desempenhando a função dada por Deus e tendo comunhão com Ele, uma parte de si mostrava que ele estava incompleto: não havia alguém de sua natureza no qual a relação e comunhão pudesse ser partilhada.
Vale ressaltar aqui a visão de Deus a respeito do homem: que não é bom que o homem esteja só. E o que seria estar só na perspectiva de Deus?
Estar só, ou por si mesmo, significa viver uma condição de andar segundo seus próprios desígnios, pensamentos ou caminhos. É externar uma vida baseada no eu, não tendo em vista a condição do outro.
E isto tem uma profunda implicação no diálogo presente no casamento. Ou nos relacionamos com EU-ISSO, ou com EU-TU.No diálogo EU-ISSO, a satisfação está centrada no EU, enquanto EU-TU o foco está no próximo, ou em nosso caso, no cônjuge. Ou casamos para sermos felizes, ou para fazer nossos cônjuges felizes. Há uma grande diferença nesses dois conceitos, com uma vivência bastante diferente. Se eu me casei para minha felicidade, o foco está em mim, ao passo que procurar satisfazer meu cônjuge propicia uma troca de vida intensa, onde ambos partilham da vida em comum.
Portanto, na concepção do Criador, é bom para o homem que haja alguém ao seu lado, compartilhando sentimentos, percepções e projetos. E quem seria essa pessoa a se unir com o homem em seu caminho de vida?
A resposta: Uma ajudadora.
E é importante ressaltar a posição que Deus coloca esta ajudadora: frente ao homem. Qual o motivo?
Estar frente ao homem, é ser o foco do seu marido, seu primeiro foco de atenção. É importante ressaltar que o homem, por sua natureza, é atraído pelo que vê. Portanto, nada mais natural que Deus coloque a mulher exatamente nessa posição, em frente aos olhos.  E isso não se refere apenas a uma posição física, mas sim a um posicionamento com um profundo aspecto prático. A mulher deve ser a primeira coisa que o homem deve olhar, antes de dar o primeiro passo. Isso significa que, antes de realizar qualquer projeto, de adquirir qualquer coisa, o homem tem que primariamente ver se o projeto envolve sua esposa, se ela está inserida no contexto do plano marital. Perguntas como essas devem ser então respondidas: “será mesmo que é hora de trocar o carro? Será hora de investir naquele negócio? Será essa a hora de comprar ou vender?”. Uma postura como essa, com certeza, evitará uma série de problemas! E mais ainda, auxiliará - e muito - no projeto que Deus tem para cada casal.
Retornando ao texto, vemos que o primeiro homem entendeu perfeitamente esse conceito quando, ao dar nomes aos animais criados, sente a falta da ajudadora... frente a ele! Observe:
“E chamou o homem os nomes a todo quadrúpede e a toda ave dos céus e a todo animal do campo e para o homem não achou uma ajudadora frente a ele.” Gn 2.20 (grifo nosso)
Até aqui, aprendemos a posição original em que deve estar a mulher na relação que é o casamento. Vimos também que a relação deve ser baseada no amor e no diálogo. Mas ainda podemos aprofundar um pouco mais sobre a relação dentro do casamento entre marido-mulher:
Diz o texto:
“Portanto deixará [soltará] o homem a seu pai e a sua mãe e unir-se-á [apegar-se, grudar-se, ficar junto de – junta, solda] à sua mulher, e serão uma só carne” Gn 2.24
A palavra carne em hebraico é bassar, que traz a conotação de corpo e alma (pensamentos, emoções, desejos), não apenas do corpo físico. Portanto, Deus estabelece uma união de pensamentos, atitudes e interesses que vai muito além da intimidade sexual. O casamento idealizado por Deus envolve uma parceria, uma “sociedade”, onde ambos, homem e mulher, focam o mesmo objetivo e trabalham com o mesmo alvo, construindo uma “sociedade” com fundamentos sólidos – alicerçados na Palavra de Deus. As atitudes se confundem e se fundem em uma única entidade espiritual – A FAMÍLIA.
Mas o que é ser UM SÓ? A mesma palavra é usada em dois textos bastante significativos para a nossa fé:
“Ouve, ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é UM” Dt 6.4
שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד
“eu e o Pai somo UM” Jo 10.30   
אני ואבי אחד אנחנוּ
Esta palavra Echad  (אֶחָד )faz menção a uma união poderosa, trazendo o conceito de diversidade dentro da unidade.
Ou seja, este um que agora se tornou o homem e a mulher, unidos pelo casamento, tem uma profunda implicação que difere e muito do que é comumente visto e crido pela sociedade em geral.
Esta UM do casamento pressupõe duas diferentes personalidades, sentimentos e vontades, mas num ambiente de profunda unidade. 
Mais ainda: podemos ver na relação de Jesus com o Pai o tipo de relação ideal a ser vivida no casamento. 
Mas isso é um assunto para o próximo post....

Daniel Ben Iossef


terça-feira, 8 de junho de 2010

Quase...



“Porém depois o povo partiu de Hazerote; e assentaram o arraial no deserto de Parã” Nm 12.16


Que obstáculo hoje nos impede de dar o próximo passo? Como enfrentamos as situações do “quase” ?
Todos nós temos uma Canaã, uma terra que mana leite e mel como promessa. Mais ainda, como um alvo proposto pelo próprio Deus para cada um de nós. Claro, não uma terra física, mas uma posição onde podemos experimentar o Reino - nos relacionamentos, no lar, na vida profissional. À medida que caminhamos com o Senhor, temos nossa vida transformada e a esperança de um amanhã melhor se faz cada vez mais concreta. Afinal de contas, o Evangelho é poder de Deus para o homem, transformando-o e tornando real a redenção oferecida por Jesus.


Porém, nem tudo depende de Deus. O ser humano é dotado de livre-arbítrio, e neste processo algumas atitudes são fundamentais para conquistarmos nossa Canaã. Infelizmente, muitos não tem consciência disso e passam a viver no quase... Quase tiveram seu casamento restaurado; quase foram promovidos em seu trabalho; quase viram seus filhos no  caminho do Senhor. Quase. Isto pode gerar uma falsa idéia de abandono por parte de Deus, justamente quando estávamos às portas da Terra Prometida. E porquê não entramos? Teria Deus falhado conosco quando quase estávamos lá?


Encontramos aqui Israel prestes a tomar posse da promessa. Eles quase estavam lá. Existem aqui duas lições importantes se queremos experimentar as promessas de Deus. O texto nos mostra que eles saíram de Hazerote e foram até um lugar chamado Parã. O significado hebraico desses dois lugares traz, com clareza, a situação espiritual do povo. Hazerote significa “acampamento fechado, murado, isolado por si mesmo”, enquanto Parã significa “honrar, glorificar, embelezar”. Portanto, para poderem ser glorificados por Deus e viver as Suas promessas, eles tiveram que abandonar um estado de fechados em si mesmos, isolados do mundo e tomar uma outra postura, afim de se colocar na posição correta.


Vale a pena ressaltar a cidade no qual eles acamparam em Parã: Cades. Este nome vem do hebraico kadosh (קדש), que significa santo. A santidade é também resultado da vontade de abandonar as velhas práticas através do arrependimento e assumir uma nova postura diante da vida. Veja bem: Israel saiu de um momento de isolamento, da seguranças da proteção natural e partiu para o deserto. Um lugar inóspito, numa posição exposta, onde a sobrevivência dependeria unicamente de Deus. E ali montaram seu acampamento num lugar chamado santidade. É preciso coragem para olhar nosso interior, encarar a crueza do nosso "eu" e admitir que precisamos da graça do Senhor. Sem santidade ninguém verá a Deus, e viver em santidade implica em abandonar nossas "defesas naturais", render-se ao Senhor e ter a ousadia de caminhar num deserto cheio de perigos e tribulações, mas confiando no cuidado de nosso Deus.


Assim, se queremos estar efetivamente no processo de santidade e glorificação é necessário abandonar nossos muros de proteção, como o medo e a vergonha e viver plenamente com Deus, deixando-o operar livremente em nós. Neste ínterim, a cada dia seremos adornados e embelezados, tornando-nos a Noiva sarada e pura para o Noivo. Você está disposto?


Naquele que nos move de lugar,

Daniel Ben Iossef

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Nós, os princípios e eles


Shalom!

Repasso a vocês um excelente texto sobre os últimos fatos a respeito de Israel, a imprensa anti-semita e a nossa percepção disso tudo - Por Reinaldo Azevedo.



Preparados para um texto longo? Um daqueles que chamo de “Textos de Formação”? Então vamos lá, queridos! Escrevo o que é, para mim, um dos posts mais importantes desde que este blog existe. Porque ele vai lidar com princípios e com a razão mesma de existirmos.

A IMPRENSA
 
O noticiário da grande imprensa no Brasil sobre o caso da tal “ajuda humanitária”, embora oficialmente neutro, é abertamente anti-Israel — e seria em qualquer caso, ainda que os soldados das Forças de Segurança tivessem abordado os barcos lendo a parte amorosa dos Salmos, o que não quer dizer que Israel tenha colhido os melhores frutos da ação. Já chego lá. Vou, antes, falar um pouco mais sobre imprensa e, se me dão licença, sobre este blog.
Já tiramos algumas coisas da quase clandestinidade aqui para iluminar o debate, não é mesmo? Dou dois exemplos já históricos: a Constituição de Honduras, aquela que ninguém tinha lido antes de chamar golpista de democrata e democratas de golpistas. Ou, então, o Plano Nacional-Socialista de Direitos Humanos, que extinguia a propriedade privada e definia como norte ético a censura à imprensa. 

Anteontem, no primeiro post que escrevi sobre aquela infelicíssima ocorrência da flotilha, eu lhes apresentei e à imprensa brasileira Bülent Yildrim, o chefão da ONG turca IHH, a verdadeira organizadora da trágica patuscada “humanitária”. Na apresentação que fiz, ele aparecia ao lado do terrorista do Hamas Ismail Haniya. O jornalismo de TV, ao menos, já descobriu que a IHH existe e que era ela a verdadeira organizadora das naus dos insensatos. O impresso, no Brasil, talvez demore um pouco mais já digo por quê.
Só a imprensa brasileira foi lenta? Não! Só ontem à noite, acreditem, o New York Times (!) informou que a tal organização turca havia tornado viável a operação. O texto está na edição impressa de hoje. A fala de um dos dirigentes da entidade é absolutamente eloqüente e fornece um dos dois assuntos principais deste artigo. Informa o jornal que a IHH estava celebrando um estranho sucesso: “Nós nos tornamos famosos”, afirmou Omar Faruk, um dos membros da Insani Yardim Vakfi, conhecida por “IHH”. Ele parou por aí? Não! Ele continuou: “Nós estamos muito gratos a Israel”.

Pelo menos nove pessoas morreram na operação, mas Faruk, que dirige uma organização que se quer “humanitária”, está muito grato! Acho que isso define, de modo eloqüente, o caráter da IHH e o que queriam muitos daqueles “humanistas” que se dirigiam a Israel  — se não os bobalhões que se arriscaram, ao menos os que dirigiram a operação.
Não! Não sou o Lula dos blogs e não vou me jactar de ter furado o New York Times. Mas vocês sabem quem primeiro tirou Yildirim da sombra. A razão é simples: desconfio de quem participa de flotilhas humanistas a Gaza, mas não solta um pio quando o Irã enforca opositores. E vou tentar saber quem é o quê. Alguns colunistas do jornalismo impresso ainda perguntam: “Mas para que servem os blogs?” Bem, depende, não é? Pode-se fazer a mesma pergunta sobre os jornais. Há bons e maus usos para uma coisa e outra. A marca distintiva dos blogs tem sido a pluralidade, que está em extinção na chamada grande imprensa — fica para outro texto. Coloquem aí outro sinal de “positivo” para esta nossa pagininha, cada vez mais lida.

OS FATOS E COMO SOU

É óbvio que as pessoas que escreveram para cá me acusando de apoiar a truculência de Israel ou o assassinato de pessoas estão mentindo para seu próprio conforto. E tais comentários foram devidamente arquivados no lixo. A razão é simples: não é contestação àquilo que escrevo, mas ofensa. QUEM COMEMORA A MORTE É UM DOS CHEFÕES DA IHH. Vejam o bruto aí acima sendo “grato” a Israel, como ele diz. Por quê? PORQUE O SANGUE IRRIGA A CAUSA DESSES FANÁTICOS. O que fiz nestes dois dias, hoje é o terceiro, foi DESMONTAR A MÁQUINA DE MENTIRAS da militância. Independentemente da oportunidade da ação israelense (já falo sobre ela) e da expertise militar empregada, demonstrei que:

- os “pacifistas” atacaram os soldados:
- o objetivo da flotilha era fazer uma provocação política;
- a ação era organizada por uma ONG pró-Hamas;
- o objetivo, AGORA MAIS DO QUE CONFESSO, era criar uma comoção que transformasse Israel no bandido da história.

E isso está sobejamente demonstrado. E o fiz dando pouca trela à gritaria à volta. Essas coisas nunca me assustam. Confesso que, ao notar unanimidades, algo dispara um mecanismo no meu cérebro: “Cuidado! Se ninguém se ocupa do contrário, essas pessoas cegadas pela luz da verdade se tornam fanáticas”. Até quando notórios canalhas são enxovalhados, humilhados, sinto certo desconforto. As pessoas que estão certas quase nunca são triunfalistas sobre a sua verdade. É a forma que a máxima terenciana (do latino Terêncio) tomou em mim: “Sou homem, e nada do que é humano é estranho a mim”. A propósito: meu avô materno se chamava “Terenciano” — homenagem ao autor.

Isso não quer dizer que não partilhe, jamais, de nenhuma unanimidade. Às vezes, sim. Mas procuro ser sempre prudente e submeter as verdades a algum crivos da lógica. É claro que aquele colunista pançudo que quer fichar os 5% que não acreditam na divindade de Lula não vai compreender isso jamais. Coitado! Deve ter passado boa parte da vida tentando acreditar em alguma coisa. Encontrou bons motivos para se ajoelhar no altar do Babalorixá de Banânia. Debato duro, sim, mas não tenho sede de extermínio. Que o outro fique de pé.

Assim, dediquei-me, nestes dois dias, a desmontar a boçalidade antiisraelense que pauta a maior parte da imprensa brasileira, pouco importa o que Israel faça. Se o país tivesse permitido que a flotilha entrasse em suas águas territoriais para, só então, fazer a abordagem — e por mais bem-sucedida que ela tivesse sido —, a reação seria a mesma. As apresentadoras e apresentadores de telejornais continuariam a dizer o adjetivo “hu-ma-ni-tá-ria” assim, escandindo sílabas, como se a palavra ganhasse especial sentido e como se a IHH, aquela grata pelas mortes, deixasse de ser a organizadora do ato.

ACONTECEU O PIOR

O tal Omar Faruk, como vimos acima, comemorava ontem a tragédia, dizendo-se grato a Israel. Não por nada! Ainda que houvesse uma pessoa do movimento infiltrada no comando que decidiu aquela forma de abordagem, com as conseqüências que vimos, o resultado não poderia ter sido mais exitoso para os inimigos do país e, se querem saber, para os inimigos do Ocidente.
- os israelenses saem com a fama de truculentos:
- as relações do país com a Turquia, seu aliado de maioria islâmica, estão profundamente abaladas;
- a propaganda anti-Israel ganhou o mundo;
- o Hamas sai moralmente fortalecido;
- os esforços dos EUA para condenar o Irã no Conselho de Segurança da ONU estão seriamente prejudicados;
- os patrocinadores daquele acordo vigarista com os iranianos, Brasil e Turquia, aproveitam o momento para caracterizar Israel como o verdadeiro inimigo da paz no Oriente Médio.

Em suma, ao abordar os barcos em águas internacionais e fazer uma intervenção militarmente desastrada como aquela, o que acabou resultando na morte de nove pessoas, Israel realizou tudo o que seus inimigos esperavam: ditaram a coreografia, e suas forças de segurança a executaram com o rigor do autoflagelo. E noto à margem para que não reste dúvida: os militares reagiram, sim, às tentativas de linchamento. Os vídeos e os soldados feridos são evidências inequívocas.
Isso não quer dizer, no entanto, que a operação militar não tenha sido desastrada. Não estou entre aqueles que acreditam que Israel apostasse que havia armas na embarcação. Se assim fosse, não teria tentado aquela intervenção, desembarcando meia-dúzia de soldados em meio a centenas de militantes. A idéia foi mesmo fazer a intervenção para forçar a frota a mudar de rumo, sem atentar, tudo indica, para o risco de que acontecesse o que aconteceu: os “pacifistas” partitiram para cima dos militares, o que gerou a resposta conhecida, os mortos, a indignação internacional…

Fez-se o melhor? Não, é evidente! Em águas territoriais israelenses — para fugir à caracterização de uma ação ilegal —, Israel poderia ter usado a sua Marinha para impedir a chegada dos barcos a Gaza, o que, com efeito, é ilegal, e o país tem o direito internacional de assegurar a sua soberania — ponto final. Apanharia, reitero, do mesmo modo, mas não teria fornecido pretextos tão VEROSSÍMEIS QUANTO FALSOS para caracterizar uma luta de algozes contra vítimas.

A operação desastrada pode ser um sinal de alguma degeneração na área de segurança, decorrência da radicalização de posições, de modo que a ação estava destinada a ser uma espécie de demonstração de força e acabou resultando num desastre? É bem possível. O próprio governo de Israel reflete hoje, vamos dizer assim, a intolerância com o que seria, sem jogo de palavras, a ineficiência da tolerância. A população foi às urnas e votou por menos concessões aos palestinos, não por mais. E o governo de Israel parece um tanto conformado, o que é um erro, com uma possível constatação: “Muito bem! Se o mundo não quer compreender, que não compreenda. Seguiremos o nosso caminho”.

Israel ganhou guerras memoráveis, inclusive aquelas em que estava em inferioridade militar. Mas há muito tempo tem sido derrotado na batalha da comunicação. Isso requer, sei lá, mais uma centena de textos. É claro que se pode indagar por que os milhões de mortos da África subsaariana, os milhares de curdos ou os quase 400 mil cadáveres da Darfur não mobilizam o mundo; é claro que se pode indagar por que ninguém dá bola para o regime de semi-escravidão da Coréia do Norte; é claro que se pode indagar por que uma flotilha jamais seria organizada para levar solidariedade aos perseguidos do Irã… Que os inimigos de Israel — atenção: INIMIGOS CONTRÁRIOS À EXISTÊNCIA DO ESTADO — são fortes, ricos e organizados, isso é inequívoco.

O esforço a ser feito não é só de opinião pública. Tudo o que os terroristas do Hamas querem é evidenciar uma suposta equivalência moral entre a democracia israelense e sua estupidez fundamentalista. Basta ler os estatutos do grupo para saber por que é impossível negociar com eles — aliás, é o que pensa também Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina. Israel precisa voltar a se empenhar num plano de paz para valer. E tomar a dianteira nesse processo. Isso vai aplacar a sede de seus inimigos? Pouco importa! Fazê-lo não implica se descuidar das medidas de segurança. Nem israelenses nem palestinos vão sair de onde estão. Têm e terão de conviver. E pessoas precisam parar de morrer por isso, eternidade afora.

ADORADORES DA MORTE

Não serão seis naus lotadas de insensatos a pôr fim ao bloqueio de Gaza. Evidentemente, não é uma boa maneira de tentar convencer Israel. E chega a ser estúpido que ONU, Brasil ou Grã-Bretanha cobrem o fim do bloqueio justo agora, quando uma pantomima terceirizada do Hamas tenta um ato de pura propaganda. Ademais, chega a ser patético que se cobre tal medida de Israel quando o Egito aplica, em terra, a mesma política — e para conter o mesmo grupo: o Hamas.

O bloqueio não existe porque os israelenses são perversos, e o governo de Gaza, um grupo de seres angelicais. Ele existe para conter a chegada de armas para o Hamas. Já chegou a ser suspenso, diga-se, e Israel tomou em troca uma chuva de mísseis, DIANTE DO SILÊNCIO CÚMPLICE DO MUNDO. Verdade ou mentira? Ou não cabe indignação quando Israel é vítima de ataques?

Duas outras embarcações estão no mar e pretendem chegar a Gaza. Não vão chegar, a menos que Israel permita. E creio que não vai permitir. Não há concessões a fazer ao terrorismo do Hamas, mas é chegada a hora de retomar a conversa com a Autoridade Nacional Palestina e deixar claro em que consiste a boa-vontade israelense para se chegar à solução de “dois povos, dois estados”. É preciso cassar a suposta superioridade moral dos adoradores da morte.
Este blog, este blogueiro e seus leitores querem a paz. Só não abrem mão, nunca!, de chamar as coisas pelo nome que as coisas têm. E jamais deixarão de considerar que o governo israelense se impõe pelo voto. E os inimigos de Israel se impõem pelo terror, inclusive contra o seu próprio povo. Por isso espera maior racionalidade, o que não de vese confundir com fraqueza, de quem vem legitimado pela superioridade democrática.