quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Jonas, Jonas...


É manhã em Israel. O sol nasce devagar, preguiçoso por dentre as montanhas enquanto um certo profeta faz seu desejum matinal. “O que dia trará?” pode ter sido seu primeiro pensamento. As idéias rodavam despretensiosas em sua mente, enquanto saboreava o leite e o pão feitos no dia anterior – “este será um dia promissor”, pode ter pensado, até que uma sensação de urgência começa a brotar em seu coração.
Ele sabia do que se tratava. Era o Senhor chamando sua atenção, pronto a lhe dar instruções sobre onde ele deveria ir profetizar a Palavra do Altíssimo, o Santo de Israel.
“Irei a Jerusalém?”, deve ter pensado…“ou quem sabe uma visita à Nazaré? Faz tempo que não apareço por aquelas bandas…” e então ela veio, a voz inconfundível do seu Deus:
“Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.”  (Jn 1.1,2)
Jonas fica paralisado….a fome repentinamente se esvai e os pensamentos agora pipocam em sua mente numa vertiginosa rapidez.
Nínive?
Nínive?
Nínive???
“Não pode ser….devo estar enganado”. Porém, ele não estava e sabia disso. A ordem era clara. E uma ordem surpreendente…Nínive era a capital da Assíria, uma nação perversa e considerada uma ameaça pelos israelitas. E o Senhor o estava comissionando justamente para profetizar àquele povo.
O momento é dramático (para não dizer cômico). O profeta não esboça nenhuma reação aparente. Ele guarda calmamente a louça, arruma a cama, faz as malas e sai. Não há palavras em seus lábios. Ele não ousa olhar para o céu, sabendo que o Senhor estava, de qualquer modo, observando tudo. Um medo tolo, como se Deus não conhecesse aquilo que se passava em seu interior. Jonas fecha o portão de sua casa e toma uma rápida decisão: “Bom…Nínive fica a uns 800 Km a noroeste daqui. Então vou para o outro lado, a sudeste, em direção à Tarsis”. E segue o profeta então em plena fuga.
É isso mesmo que você leu. A Bíblia diz que Jonas foge logo após receber a ordem do Alto. O que o motivou a fugir? Ele mesmo confessa a Deus – acompanhe:
“…sei que és Deus piedoso e misericordioso, longânimo e grande em benignidade e que arrependes do mal” (Jn 4.2b). Em outras palavras, Jonas fugiu por não querer ver a salvação de Deus operando no meio de um povo que ele não gostava e que considerava indigno da graça divina. A seus olhos, a justiça divina seria mais compatível com a destruição daquelas pessoas, e não a salvação.
Será que somos diferentes de Jonas? Estando separados dele pelo tempo e pelas  circunstâncias, podemos confortavelmente julgar sua atitude e bater no peito de maneira ufanista, dizendo: comigo seria uma outra história! Somos tão diferentes dele assim? Medite na possibilidade de nossos relacionamentos estarem debaixo de semelhante senso de justiça própria… Nas ocasiões onde excluímos (cônscios disso ou não) os que pensam diferentes de nós, sem nem ao menos darmos uma chance de ouvir o outro lado da história. Sim, infelizmente o egoísmo (e a falta de maturidade cristã) podem nos trazer uma leitura equivocada das pessoas e da realidade que nos cerca. Concluímos que nosso senso de justiça é o do Senhor – e quando descobrimos que não é, não suportamos a graça do Senhor e fugimos.
Nos afastamos das pessoas, dos relacionamentos, de Deus…abandonamos a misericórdia e abraçamos o legalismo. Deixamos de edificar para sermos apenas servidos. Se não é do meu jeito, como eu penso, então não quero mais… Infelizmente, esta “armadilha” da justiça própria coloca o homem até acima de Deus, o que pode infelizmente ocasionar no abandono da vida cristã.
Qual a cura disso? Ver como Deus vê – ou seja, ler a realidade a partir da perspectiva bíblica, nos colocando em nosso devido lugar e prontos a obedecer a Deus sem questionar. A cura envolve em receber dEle a visão correta; e é isso que o Senhor vai fazer com Jonas.
“…não hei eu de ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4.11).
Enquanto Jonas os enxergava como um bando de pervertidos e indignos de qualquer misericórdia, o Senhor os via como “…ovelhas que não tem pastor, perdidos e sem qualquer referência de onde buscar ajuda”. 
Lembre-se sempre disso: antes de julgar alguém, procure saber de sua vida. Suas lutas, as dificuldades que superou até chegar ali. É fácil emitir uma opinião a partir de um ponto de vista particular. Entretanto, é cristão estender a mão, abraçar e, com o coração embebido do amor de Cristo, afirmar: “Está tudo bem. Nosso Salvador não veio buscar os sãos, mas sim os doentes…” (Mt 9.12)
Em Cristo, 
Daniel

sábado, 3 de novembro de 2012

De que lado você fica?


Existem algumas verdades bíblicas que são inegociáveis: a inerrância das Escrituras, a Trindade, a salvação pela graça...e entre elas podemos destacar uma que em face das vicissitudes diárias enfrentadas por todos nós torna-se de algum modo esquecida: o destino que Deus tem para nossas vidas é bom.
Permita-me repetir isso: o destino que Deus tem para nossas vidas é bom. Se necessário, leia mais uma vez, e deixe que estas palavras sejam absorvidas como água que se derrama sobre terra seca.
Uma sentença assim abre diversos ângulos de discussão: qual o conceito bíblico sobre a palavra destino? Como ter a certeza de que ele é bom? Onde está a bondade de Deus no meio de tanto mal? Por que sofro tanto se Deus é bom? No entanto, o intuito deste texto não é analisar exaustivamente estas indagações, mas lançar luz sobre o tema da bondade de Deus de nossa postura frente à isso.
Para tal, teremos o texto de Jeremias 29.11(NVI) como norte nesta reflexão:
Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês", diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes ESPERANÇA e um FUTURO." (grifo nosso).
O que a Palavra ensina? Que há um plano em ação nos conduzindo, dia após dia,  a um futuro de prosperidade esperançaPodemos ter vivido um passado de dor e fracasso, porém ele não é capaz de impedir a manifestação da vontade soberana de Deus. Em outras palavras, o passado fez parte do processo de construir quem você é hoje, mas não determina quem você será amanhã. A verdade é que a história de sua vida ainda não acabou. O Senhor é claro ao afirmar: "Eu tenho um plano, um futuro de esperança para fazê-lo prosperar". Vale lembrar que o termo prosperidade não é restrito à finanças, mas abrange a vida humana como um todo; Deus mesmo fornece os subsídios de modo a  fazer cumprir Seus propósitos e glorificá-lo. Se respondemos a isso, se formos fiéis no pouco, sobre o muito Ele nos colocará (Lc 16.10).
Entretanto, falar em destino não é isentar o homem de sua responsabilidade em responder aos mandamentos de Deus. O mesmo Senhor que ordena sede santos (1Pe 1.16) mostra nossa incapacidade humana de fazê-lo (ou sê-lo) sozinhos (...sem mim, nada podeis fazer... Jo 15.5). Portanto, estas duas afirmações que, a princípio parecem contradizentes, na realidade de algum modo se auto-complementam e nos trazem ao segundo princípio que abordaremos: temos responsabilidade sobre o destino que nos aguarda. Nosso propósito no Reino não acontece de forma involuntária, automaticamente. O Senhor estabelece os planos, cria as oportunidades e nós temos que responder a elas. Com o intuito de estabelecer de forma mais clara estes princípios, vamos nos encontrar com Josué, no momento onde ele estava na liderança dos israelitas e na expectativa para entrar na Terra Prometida.
Moisés havia sido o instrumento escolhido por Deus para libertar Seu povo da escravidão no Egito. Foram cerca de quatrocentos anos, tempo no qual uma nação de aproximadamente três milhões de pessoas floresceu a partir da família de Jacó ( Ex 1.7). Após o saída miraculosa e a passagem pelo Mar Vermelho, foram quarenta anos de permanência no deserto, como resultado do juízo de Deus em resposta à incredulidade do povo frente a revelação divina (Nm 13). Conforme àquilo que o Senhor havia pronunciado, a primeira geração morrera no deserto e a incumbência de liderar a nova geração na conquista da Terra Prometida estava nas mãos do jovem líder. Vejamos então o que nos ensina o relato bíblico, extraindo os princípios ali contidos de forma a aplicá-los em nossa caminhada cristã.
Vale a pena, antes, ressaltar: o destino que o Senhor tem para as nossas vidas é bom. 
Vamos lá?
O livro de Josué começa narrando alguns fatos significativos:
Depois da morte de Moisés, servo do SENHOR, disse o SENHOR a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: "Meu servo Moisés está morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, você e todo este povo, preparem-se para entrar na terra que eu estou para dar aos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a terra dos hititas, até o mar Grande, no oeste”. (Js 1.1-4)
Atente às primeiras palavras do texto: "Depois da morte de Moisés...". Creio que muitos aqui já ficariam paralisados frente a este "aparente obstáculo": a morte de Moisés.  Você consegue imaginar o tamanho do desafio? Suceder o grande legislador? E como se não bastasse, o destino de três milhões de pessoas estava agora em suas mãos. No entanto, Deus é específico em afirmar isso a Josué logo no versículo dois, já chamando ele à ação: levanta-te! Há uma atitude enérgica aqui; a palavra levanta-te (no hebraico qum - קום) tem o sentido dentre outras coisas de "ficar de pé a partir de uma posição prostrada". Com isso, o Senhor estabelece alguns pontos fundamentais com Josué antes de sua jornada:
1) Moisés morrera: ele era o alicerce que até então mantivera o "povo unido" através da Lei. No entanto, o propósito em sua vida havia se cumprido e o Senhor mesmo não permitiu que Moisés fosse o líder na conquista. Interessante pensar que, como Moisés fora o mediador da Lei e não entrou na Terra Prometida - ele apenas a viu de longe (Dt 34 - fato que mais tarde o escritor de Hebreus cita como tendo-as visto de longe (Hb 11.13), pode-se inferir que a Lei não conduziu o povo à Terra, mas sim a fé na promessa. Josué (do hebraico yehoshua - יהושע"o Senhor é a salvação") torna-se então um tipo de Cristo, levando o seu povo à salvação, à promessa divina revelada. A Lei apontara o caminho, mas a fé seria o instrumento de conquista.
(continua...)

sábado, 4 de agosto de 2012

De Camões à Laodicéia...

O que faz com que uma paixão termine?

Biblicamente falando, a paixão possui uma conotação negativa, relacionada à carne e sua inclinação ao pecado. Porém, vamos nos valer deste termo e sua menção àquele sentimento de euforia, quando tudo se torna pequeno diante do alvo de nosso amor.

Lembra-se dos primeiros dias quando conheceu o seu cônjuge? Quando o olhar, o pulsar do coração batiam no compasso dos pensamentos relacionados à pessoa? Não havia dias frios, o calor do sol ou qualquer intempérie que fosse obstáculo para o momento mágico do encontro dos olhares, do toque nas mãos...como já se constatou por aí, quando estamos apaixonados tudo o mais perde valor e importância. Dormir tarde, acordar cedo e outras atividades do cotidiano ficam pequenas frente à avalanche de emoções que inundam o coração e o íntimo do ser.


Como diria Luis de Camões, amor é fogo que arde sem se ver...

Entretanto, é fato certo que este sentimento apaixonado vai aos poucos se esvaindo... a emoção do reencontro se perde à medida que os dias vão passando...e a realidade torna-se mais evidente do que a ilusão que a paixão proporciona.

Bom...até aqui falamos basicamente do relacionamento entre um homem e uma mulher. Porém, em nossa vida espiritual, pode-se experimentar o mesmo sentimento? Podemos estar apaixonados por Deus e depois deixar de apaixonar?

Vejamos então os que nos diz as Escrituras - acompanhe:
“Ao anjo em Laodiceia escreve: ‘Assim declara o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o Soberano da criação de Deus. Conheço as tuas obras, sei que não és frio nem quente. Antes fosses frio ou quente! E, por este motivo, porque és morto, não és frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca. E ainda dizes: ‘Estou rico, conquistei muitas riquezas e não preciso de mais nada’. Contudo, não reconheces que és miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu! Portanto, ofereço-te este conselho: Adquire de mim ouro refinado no fogo, a fim de que te enriqueças; roupas brancas, para que possas cobrir tua vergonhosa nudez; e compra o melhor colírio para que, ao ungir os teus olhos, possas enxergar claramente. Eu repreendo e corrijo a todos quantos amo: sê pois diligente e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo." Ap 3.14-20
A igreja de Laodicéia recebeu este nome em homenagem a Laódice, esposa de Antíoco II, que reconstruiu a cidade. Ela estava dentre as mais importantes cidades da Ásia Menor, tornando-se uma das primeiras sedes do cristianismo. Laodicéia era uma cidade rica por seu comércio e por suas atividades bancárias e famosa por sua florescente escola médica. Devido a sua privilegiada posição social e poder aquisitivo, os habitantes da cidade se achavam autossuficientes e isso, de algum modo, acabou influenciando a igreja. Esta, então, parecia ser tomada pelo mesmo sentimento de independência. O estado espiritual foi descrito então por Jesus como "morno". Qual a profundidade ou extensão desta descrição? 

Vamos ver isso num segundo momento; antes, é importante analisar os motivos que trouxeram esta mornidão à Igreja - em outras palavras, qual o "estopim" inicial da perda da paixão daquela comunidade ?

" Conheço as tuas obras..." (v.15) - este é o ponto de partida usado por Jesus para se dirigir aos membros da Igreja. Independentemente de quais discursos eram ou não propagados e aceitos aos olhos de todos, o Senhor olhava para as atitudes daquele povo. Antes, Tiago já alertara através de sua carta que a "fé sem obras é morta" (Tg 2.17). Em outras palavras, nossas atitudes frente à revelação bíblica, com consequente mudança de vida fala mais alto do que a nossa retórica. Pode-se fazer aqui uma menção ao conceito hebraico de caminho (דרך dérech), profundamente relacionado ao comportamento (cf Sl 1), que é diferente ao pensamento grego que valoriza o discurso em detrimento das ações (vide os sofistas). Portanto, este conceito hebraico é o ponto de partida - algo familiar aos leitores judeus da carta e, por que não dizer, dos próprios cristãos da época. 

No versículo seguinte encontramos o motivo da apatia espiritual - acompanhe:

"...E ainda dizes: ‘Estou rico, conquistei muitas riquezas e não preciso de mais nada". (v.17)
Em primeiro lugar, observe onde está o foco: neles! A seus olhos, o motivo das riquezas não era a graça de Deus, mas seu próprio esforço em adquirir, de acordo com a cultura local, riquezas. Trata-se realmente de poder aquisitivo aqui, de bens materiais. Nada diferente da cultura hedonista em que vivemos, onde o valor do indivíduo e sua posição social está profundamente arraigado ao que ela tem, e não ao que é. Basta uma passada rápida nos programas de TV populares e lá encontramos "celebridades" que não são referência de nada opinando sobre todo e qualquer assunto. Qual o subsídio de vida, ou mesmo profissional elas possuem? Na grande maioria, basta apenas aparecer da telinha e já se pode sair por aí opinando sobre tudo... De qualquer modo, a Igreja de Laodicéia se achava mais do que suficiente, a ponto de não olhar mais para Deus e dEle esperar qualquer coisa...sutil, não? Aliás, desde que o diabo ofereceu a prosperidade a Jesus em troca de adoração, esta deixou de ser um sinal de aprovação divina...

A apatia originou-se de uma falsa fartura, que criou um sentimento do tipo "não preciso mais de Deus". Perigoso, não? Este é um processo que inicia com um pequeno desvio de foco: o Senhor deixa de ser o centro para dar lugar ao ventre humano.

Isso acabou por trazer uma mudança de valores. Eles se achavam ricos, mas diante do Senhor eram pobres e miseráveis. Na realidade, este é o fruto do processo natural quando trocamos as riquezas celestiais pelas terrenas (ainda que ambas não sejam incompatíveis). Além disso, a apatia trouxe consigo a esterilidade. Eles pararam de dar frutos...

"...E, por este motivo, porque és morto, não és frio nem quente, estou a ponto de vomitar-te da minha boca..." Ap 3.16
Tanto a água gelada quanto a quente possuem suas finalidades (refrescantes, terapêuticas, etc.), porém a água morna para nada serve...o sentido aqui é de ser uma vida útil para o Reino. A a apatia gerara a falta de frutos, e a falta de frutos os faria serem vomitados por Deus. Uma ação divina resultante do julgamento da esterilidade.

Qual seria, portanto, o ponto de virada? O próprio Jesus aponta no versículo 18:

Portanto, ofereço-te este conselho: Adquire de mim ouro refinado no fogo, a fim de que te enriqueças; roupas brancas, para que possas cobrir tua vergonhosa nudez; e compra o melhor colírio para que, ao ungir os teus olhos, possas enxergar claramente.
Jesus! Ele é a fonte das riquezas do Reino, de uma vida santa e justificada. A Igreja é convidada a voltar-se à Cristo, voltando a ajustar sua leitura acerca da realidade. Em Jesus temos uma vida com cada coisa em seu devido lugar, inclusive a nós mesmos. É o velho pecado do orgulho. O motivo de toda a correção é o fato de termos sido adotados (Rm 8.23) e nosso Pai certamente usará quaisquer meios que julgar necessários para nos "colocar nos trilhos". Isso é doloroso? Sim, na maioria das vezes. Ninguém gosta de ser confrontado, corrigido...porém, perceba uma nuance desta verdade: a certeza de um amor que não nos abandonará, e que sempre agirá ativamente a fim de nos aperfeiçoar como filhos de Deus, nos conduzindo no processo de santificação e glorificação. Isso não depende de nós, em última instância, mas da graça de Deus que nos dá a certeza da salvação! Que verdade maravilhosa! (Rm 8.28-30; Ap 3.19; Jo 10.27-29)

Qual o resultado da ação deste "amor que corrige"? O mesmo quadro que vemos na ocasião da ceia com os discípulos, da refeição na praia com o desconfiado Pedro, ou ainda do peregrino Abraão ao receber em sua tenda o Senhor - íntima comunhão.

Desfrute disso! Seu amor nunca falha... ouça Seu chamado e sente-se à mesa do Senhor...

NAquele que nos conhece pelo nome,

Daniel



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O Evangelho da segunda chance...

Não existem muitas segundas chances por aí. No mundo atual, impera a necessidade do "hoje" e do "agora" característicos da geração fast-food. As pessoas não tem mais paciência, e a arte de esperar há muito parece ter sido esquecida. 

Quantas vezes passamos por isso? Quando fomos deixados de lado na escolha do time da escola, quando fomos trocados por alguém mais novo, mais forte, mais rápido... ou talvez por motivos que nos são desconhecidos. O fato é que enfrentamos situações assim: toda nossa esperança parece se esvair pelos nosso dedos. Não há luz no fim do túnel e nenhuma opção parece ser viável.

O que fazer? Existe algo em que possamos depositar nosso coração?

Existe a possibilidade de recomeçar?

Dentre tantas preciosidades existentes nas Escrituras, há uma que deve sempre estar diante de nós:

"...eis que faço novas todas as coisas..."  Ap 21.5

Isso não é reconfortante? Saber que nossos fracassos não são o fatais, e que onde há ruínas uma nova vida pode brotar?

Um dos apóstolos de Jesus, Pedro, sabe muito bem o que é ter uma segunda chance. Seu temperamento impetuoso o tornou um dos principais apóstolos, fazendo parte do círculo mais íntimo de Cristo. Momentos antes de Sua prisão, Jesus revela a seus discípulos que eles iriam o abandonar e mais tarde, após a ressurreição, os encontraria. E quem toma a palavra? Pedro, que afirma:

"mesmo que todos te abandonem, eu nunca te deixarei" Mc 14.28

Podemos imaginar Pedro batendo no peito afirmando estas palavras: "Jesus, eu não sei dos outros, mas pode contar comigo! Eu nunca vou te deixar...". 

Fazemos isso, não? Com mais frequencia do que gostaríamos de reconhecer. Julgamos os outros a partir de um ponto de vista (nosso ou externo) e, comparando-nos com os outros, dizemos: "Eu não seria capaz de fazer isso, ou falar aquilo, ou agir assim...sou bom demais, Jesus! Eu tenho a força e a vontade para me manter firme. Nunca vou vacilar...". Afinal de contas, sempre há alguém pior do que nós...

É. Certas coisas preferiríamos nunca ter dito...

Em seguida, com Jesus já preso, encontramos Pedro ao lado de João dentro do pátio da casa de Caifás:

"Mas, quando acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao redor dele, Pedro assentou-se com eles" Lc 22.55

Os acontecimentos então se desenrolam de uma forma dramática. Por três vezes as pessoas ali presentes apontam para Pedro, dizendo que ele era um dos discípulos. E em todas elas, Pedro nega a afirmação, chegando mesmo a amaldiçoar-se!

"Pedro começou a amaldiçoar-se e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!" 
Mc 14.71

O golpe final veio quando, após negar ser um dos discípulos pela terceira vez, seus olhos encontram os de Jesus:

"E aconteceu que o Senhor encontrou-se com Pedro e o olhou diretamente nos olhos. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe havia predito: Antes que o galo cante hoje, tu me negarás três vezes. Então Pedro, retirando-se dali, chorou amargamente" 
Lc 22.61-62

O texto grego aqui usa a expressão pikros (πικρως ) que traz a ideia de uma dor aguda, dura e fatal. O que você sentiria no lugar de Pedro? Talvez você não se veja desta forma, mas quantas vezes fracassamos naquilo que garganteamos como vitória? Como Pedro, batemos no peito de dizemos: "pode deixar comigo. Eu nunca vou fazer isso...ou voltar àquele lugar...ou falhar com você novamente...foi a última vez..."  e os discursos são os mais variados, porém a tônica é a mesma. Somos confrontados com nossas próprias palavras, e a realidade às vezes é dura demais.

Tão dura que nos faz querer voltar atrás...desistir de tudo e aceitar a derrota. É interessante analisar as derrotas que sofremos. Somos derrotados pelo tempo, por pessoas, situações...mas a pior de todas é quando o inimigo somos nós. Aqui a força de muitos desaba, e com Pedro foi assim. 

Lembra-se o que Pedro fazia antes de seguir a Jesus? Ela era pescador...e após todos estes acontecimento, onde o encontramos? Veja:

"Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, Natanael, os filhos de Zebedeu ...e Simão Pedro disse-lhes: vou pescar. E eles o encorajaram: nós vamos contigo também, e saíram..." Jo 21.2-3

Pedro volta a pescar! Obviamente não há mal algum nisso, mas é interessante como Pedro age após o fracasso: volta à antiga vida! Tenha em mente que Jesus já havia ressuscitado e aparecido a eles, mas de algum modo, isso parece não motivar a Pedro a perseverar e a pregar a ressurreição do Mestre. Observe como o fracasso tem o poder de, mesmo presenciando um milagre, nos deixar abatidos e derrotados. É impressionante como ficamos insensíveis às Boas Novas quando estamos assim...

Então a intervenção divina acontece...quando algumas das mulheres que haviam se tornado discípulas de Jesus vão ao sepulcro, encontram dois anjos que, proclamando a ressurreição de Jesus, mandam um recado aos discípulos:

"Agora ide, dizei aos discípulos e a Pedro que Ele está seguindo adiante de vós para a Galiléia. Lá vós o vereis, assim como Ele predisse".  Mc 16.7

Viu a ênfase ali? Havia um recado especial a ele, e o milagre estava prestes a acontecer.

Deixe agora que o texto fale por si...acompanhe:

"Jesus disse-lhes, então: Rapazes, tendes alguma coisa para comer? Eles responderam-lhe: Não. Disse-lhes Ele: Lançai a rede para o lado direito do barco e haveis de encontrar. Lançaram-na e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar.  Então, o discípulo que Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou a capa, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água.  Os outros discípulos vieram no barco, puxando a rede com os peixes; com efeito, não estavam longe da terra, mas apenas a uns noventa metros.  Ao saltarem para terra, viram umas brasas preparadas com peixe em cima e pão". Jo 21.5-9

Impressionante! Os mesmos elementos encontrados na ocasião da negação de Pedro: uma fogueira, uma roda de pessoas...e Jesus! Agora Ele estava ali...e o final do diálogo com Pedro é segue-me (v.19).

Uma segunda chance.

Não é todo dia que você ganha uma segunda chance, e Pedro sabia disso. Quando soube que era Jesus, mergulhou nas águas frias do Tiberíades e não apenas nadou até a praia, mas entregou-se de tal maneira que marchou valentemente até Roma, pregando o Evangelho e morrendo crucificado de cabeça para baixo, pois não se achava digno de morrer como o Mestre.

Uma segunda chance.

Não é todo dia que você encontra alguém que lhe dê uma segunda chance. Muito menos alguém que faça isso todos os dias...

...mas em Cristo encontramos ambas as pessoas!

Solus Christus, 

Daniel

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O desafio de Abrão


E começamos 2012...

Nos corações e mentes existem os mais diversos sentimentos. Existem os animados e esperançosos por um ano melhor; há os indiferentes, para os quais só mudou mesmo a contagem do calendário e os desanimados, cuja descrença os acompanhou depois do feriado. 

Pensando nisso, este primeiro texto de 2012 trata de algo bem comum e aos mesmo tempo "ignorado" pela grande maioria. Coloquei ignorado entre parênteses de propósito, pois o sentido aqui é de que sabemos do que se trata, mas o ignoramos mesmo assim. E o prejuízo é só nosso...então, vamos ao assunto! O texto a seguir é bem conhecido para muitos e, por isso, alguns detalhes podem passar despercebidos...vejamos:

"Então disse o Senhor a Abrão: Saia da tua terra, do meio da casa de teu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei" Gn 12.1

É o famoso texto da chamada de Abrão, conhecido como o pai da fé. Dentre tantos motivos, gostaria de destacar um em especial, algo que antes não havia notado e que corrobora sua grande fé no Todo-Poderoso.

Antes disso, peço que leia com atenção o versículo acima. Agora, mais uma vez. Notou algo "estranho" ali? Algo diferente? Notou o contraste de informações? Se ainda não, raciocine comigo...

Ruínas de Delfos
O ser humano é curioso por natureza. Desde sua queda, o futuro certo que havia junto ao Pai foi lhe tirado, restando apenas a certeza da morte e do retorno ao pó. Assim, já há muito tempo o homem tenta, de algum modo, "prever" o seu futuro. Encontramos nas diversas civilizações do passado menções a profetas e oráculos, como o de Delfos na Grécia antiga. A pergunta ancestral sempre rondou nas mentes e corações humanos: O que me reserva o amanhã? 

Mesmo no meio cristão, os "profetas" parecem gozar de certa popularidade, e quem não fica ansioso quando Deus realmente se manisfesta no meio de Seu povo (ainda que não somente por profetas)? Quem não gosta de ouvir uma palavrinha do Pai sobre seu futuro que atire a primeira pedra...

Enfim: o ponto em questão é que todos, em maior ou menor grau, pensam sobre o amanhã. Claro, existe o planejamento (orçamentário, acadêmico, profissional, familiar) sadio, onde mensuramos os alvos e os passos que daremos para chegar lá, e também sonhamos sim com o amanhã. E porque não? Isso é saúde para nossas almas! É ótimo sonhar, planejar, mas...

(esse mas sempre nos incomoda)

O fato é que não temos controle nenhum sobre o amanhã. Nenhum. Planejamos, agimos, guardamos, gastamos, investimos...e nada disso pode sequer garantir que estejamos vivos amanhã. Aliás, existem diversos textos bíblicos que tratam do assunto:

"Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo" Mt 6.34

"Agora, prestai atenção, vós que aclamais: "hoje ou amanhã iremos a tal cidade, lá nos estabeleceremos por um ano, negociaremos e obteremos grande lucro".Contudo, vós não tendes o poder de saber o que acontecerá no dia de amanhã. Que é a vossa vida? Sois, simplesmente, como a neblina que aparece por algum tempo e logo se dissipa" Tg 4.13-14

Interessante... mais ainda quando seguimos o texto e encontramos isso:

"Em vez disso, devíeis afirmar: se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.  Entretanto, estais agora vos orgulhando de vossas capacidades. E toda vanglória como essa é maligna"  Tg 4.15-16

Impressionante! Tiago aqui diz que não devemos planejar? Não! Mas é maligno confiarmos nosso futuro apenas em nossa capacidade e nossos talentos. Capacidade aqui, no grego, é (αλαζονειας - alazoneia), com o sentido de "alguém que confia em seu próprio poder e recursos; arrogância; confiança na estabilidade das coisas terrestres", segundo Strong's. O quadro é claro: existe uma tensão entre a "pretensa" autonomia humana caída e a soberania de Deus. E sabemos muito bem que dá a última palavra... Portanto, qual a cura para esta vanglória maligna? Reconhecer a soberania de Deus, conhecê-lo e, pela fé, confiar nEle. E isso, claro, não é assim tão fácil como parece.

Tenha em mente a natureza depravada do homem e sua luta de independência em relação à Deus. Lutamos inconscientemente contra a dependência. Queremos sempre as coisas do nosso jeito, mesmo cantando músicas que falem o contrário. Por isso, somos tão dependentes da graça de Deus que nos transforma e muda nosso coração de pedra em carne (Ez 11.19). Se fôssemos depender apenas de nossa vontade, estaríamos perdidos!

Então, qual o desafio neste ano que inicia? Aceitar o desafio de Deus a Abrão - leia novamente o texto:

"Então disse o Senhor a Abrão: Saia da tua terra, do meio da casa de teu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei" Gn 12.1

Atente às duas informações contida aqui: 


1) a especificidade naquilo que Abrão deveria deixar para trás: sua terra, sua família e a casa de seu pai.

2) a generalidade para onde Abrão haveria de ir: para uma terra que te mostrarei.

Isso não nos deixa nada confortáveis, não é? Preferiríamos o contrário, tipo: "Abrão, sai do lugar onde estás e vá para Canaã, na região norte, na cidade tal, bairro tal, e procure a casa na rua Jó e vá até a casa amarela da esquina". 

Ficamos nervosos, desatentos... perdemos a fome e corremos para todos os lados. Mas isso de nada adianta. Quanto antes aceitarmos o fato de que escutamos o que precisamos, e não o que queremos mais fácil será a jornada. O ponto é a especificidade de Deus naquilo que devemos abandonar. Sejam vícios, estruturas de pensamento, hábitos, lugares, pessoas...o fato de sermos filhos de Deus, pela fé em Cristo, nos habilita em sermos agregados à família de Deus e sermos transformados à imagem do Filho(Rm 8.29). Então, meu irmão, não adianta tapar os ouvidos: todos nós ouviremos de Deus o que precisa ser deixado para trás.

Aqui entendo o título de  pai da fé dado à Abrão. Ele foi o primeiro a encarar o desafio e aceitá-lo. Ainda que tenha levado Ló (quando deveria ter partido sem familiares), ele confiou que Deus era poderoso o suficiente para cumprir Sua Palavra. Deixou aquilo que lhe trazia segurança e partiu, tendo somente a garantia de que Deus estaria com ele. O resultado nós sabemos...Deus o prosperou em todas as áreas, e de sua semente veio o Messias.

E quanto a nós? Algumas lições parecem claras:

1) Planejar é sadio e correto - confiar em nossa capacidade não: é interessante isso, mas tudo que fazemos deve ser acompanhado de "se for da vontade de Deus". Isso nos faz lembrar quem somos e quem Deus é - acabando com todo orgulho que, no fim das contas, nos abate. Lembre-se que Deus resiste aos orgulhosos...

2) A ordem é clara quanto ao que deve ser deixado para trás: eu e você sabemos muito bem o que deve ser abandonado. Sejam hábitos, vícios, lugares, pessoas...e não adianta nos enganarmos a respeito disso. O prejuízo de ignorar isso é só nosso.

3) Há um chamado de caminhar com Deus, pela fé: Deus não nos mostrará o futuro. Não adianta correr atrás de profetadas  e coisas afins. Pode ser que eventualmente recebamos algum vislumbre, mas os detalhes são somente dEle. Isso é de propósito, pois saber o que irá acontecer no futuro não é viver pela fé/fidelidade. E a única estrada trilhada pelo cristão chama-se . Não há atalhos nem desvios. Aceitar essa realidade só nos ajudará no processo...

Bem...o fato é que nossos planos e sonhos podem se concretizar. Ou não. Tudo depende da vontade soberana de Deus - afinal de contas, em nós está Seu querer e realizar (Fp 2.13) e nenhum de Seus planos podem ser frustrados (Jó 42.2).Isso não quer dizer, claro,  que todos os nossos planos vem de Deus...isso só em oração podemos discernir. Portanto, que possamos viver menos ansiosos este 2012, crendo nos planos eternos do Pai (que certamente se cumprirão), e assumindo nossa responsabilidade de obedecer à voz do Espírito e abandonar tudo aquilo que foi ordenado por Ele.

E aproveite a viagem! Contemple a vista! 

Todo o trabalho é dEle!

Solideogloria

Daniel

(ouça este clássico)


sábado, 3 de dezembro de 2011

Descanso: você está fazendo isso muito errado...

Fim de ano...

Geralmente, esta é uma época de férias para muitos ou, pelo menos, é o conceito generalizado encontrado por aí. Nesses dias, uma das expressões mais comuns encontradas é "estou cansado"... e realmente a maioria procura viajar ou ir para lugares distantes de sua rotina diária. Há, no entanto, um porém...

Dentre tantos assuntos comuns nesta época, quero destacar um em especial: o cansaço. O termo férias invariavelmente está conectado ao cansaço experimentado por muitos (ou todos nós...). Entretanto, se nos detivermos um pouco mais sobre o tema, iremos verificar que o remédio para o cansaço nem sempre é as férias. Afinal de contas, no que se pensa quando se está afadigado? Férias! Tem-se o conceito de que, para descansar de algo, basta parar de fazer aquilo que me cansa...certo? Nem sempre.

Quantos voltam do período de férias e, dias depois, estão esgotados? Sem força mental para continuar em frente? Por que isso acontece? Quem disse que o cansaço tem relação com aquilo que fazemos?

Alguns declaram que estão cansados por trabalhar demais...outros por não trabalharem! Então...fazer cansa? Sim! E não fazer? Cansa também...

Interessante.

Alguns exclamam: "estou cansado de ficar sozinho!", ao passo que outros dizem estar cansados da esposa ou do marido...então, estar só cansa, e estar casado também? Me responda uma coisa: como é que alguém que está cansado de estar só descansa? Colocando alguém do seu lado? E quem está cansado de ter alguém do seu lado? Mandando o outro embora? Não é interessante?

Uns reclamam do cônjuge por ele estar sempre ocupado e apressado...outros pelos respectivos não fazerem nada, não terem iniciativa...e aí, estar ocupado cansa? E ter tempo livre cansa também?

E aqueles que reclamam estarem cansados da vida? "rapaz, estou cansado da vida que eu vivo..." mas ao mesmo tempo tem medo de morrer. Como é que alguém que está cansado da vida descansa? Tirando sua própria vida ?

Alguns buscam mudar o visual. Cansaram do que veem no espelho. Tingem o cabelo, cortam, alisam, encrespam...e depois de algum tempo, continuam cansados. Eram cansados feios...tornaram-se cansados bonitos!

Outros buscam um novo emprego. Pedem as contas, e de cansados empregados tornam-se cansados desempregados...

Quantos já ouviram esta pergunta - e aí, descansou? - depois de um período de férias?

Cansaço, cansaço, cansaço...

Ufa! Só de escrever cansaço já deu uma "canseira"...

Depois de tanta "canseira", onde podemos realmente achar descanso para nossas almas?

Antes de tratar do que fazer, vamos ver um exemplo do que não fazer. Veremos exatamente o caminha trilhado pela grande maioria, e ficará óbvio o fracasso em buscar descanso nos lugares errados. Acompanhe comigo:

Salomão em seu trono
Salomão, que reinou em lugar de seu pai Davi, disserta, entre outras coisas, sobre sua busca por descanso no livro de Eclesiastes (escrito no período final de sua vida). É muito interessante observar a abordagem que ele dá ao tema, pois parte do ponto de vista de si mesmo e dos resultados das experiências que teve. O primeiro capítulo, no versículo dois, já traz uma introdução bem animadora do assunto:

Coisas inúteis e mais inúteis!, - diz o Pregador - Coisas inúteis e mais inúteis! Tudo é inútil!

Trocar de emprego é inútil...trabalhar demais é inútil...ir para o salão de beleza, trocar o carro, ficar sem fazer nada....é inútil! Trocar de esposa ou marido? Aí é pecado mesmo!

Dentro do contexto trazido pelo autor, sigamos a leitura até o versículo nove:

"Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho que ele trabalha abaixo do sol?  Geração vai, e geração vem; porém a terra permanece para sempre.  O sol nasce, e o sol se põe; e se apressa ao seu lugar onde nasceu.  O vento vai ao sul, e rodeia para o norte; continuamente o vento vai rodeando e voltando aos lugares onde circulou.  Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar onde os ribeiros correm, para ali eles voltam a correr.  Todas estas coisas são tão cansativas, que ninguém consegue descrever; os olhos não ficam satisfeitos de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.  O que foi, isso será; e o que se fez, isso será feito; de modo que nada há de novo abaixo do sol". Ec 1.3-9

É...não creio que Salomão pudesse ganhar a vida com palestras motivacionais! Ele trata aqui do cotidiano, da rotina diária. De quando acordamos todos os dias no mesmo horário, fazemos as mesmas coisas, ouvimos as mesmas desculpas esfarrapadas de sempre, as mentiras, a futilidade, o trânsito...semana após semana, mês após mês, ano após ano...

Como você acha que ele se sentia? Exatamente como nós: cansado...

Ele vai então trilhar o caminho que muitos fazem: colocar a mochila nas costas e vazar! Fui! Será esta a resposta?

"Disse a mim mesmo: experimentarei o prazer e verificarei o que é alegria." Ec 2.1a

Ele disse isso a si mesmo provavelmente por estar se sentido só. Em outras palavras, está dizendo: "quer saber? Vou sair mesmo, vou prá (sic) balada..." . Em nossos dias, Salomão iria se tornar um frequentador de boates, bailões e afins...

O resultado?

" ...eis, porém, que também aí só encontrei futilidade. Em relação ao riso, concluí: é loucura! - e em relação à alegria me perguntei: a que conduz?

O que ele encontrou? Mais inutilidade...depois das luzes desligadas, do silêncio...sobrou a ressaca e o cansaço."é bobagem" - ele diz - "risos fúteis de nada servem"...

E ele continua:

"Procurei deliciar meu coração com o vinho, mantendo ao mesmo tempo a sabedoria e insensatez, a fim de descobrir o que, para os filhos dos homens, é melhor para se praticar debaixo do sol, durante o tempo de suas vidas". Ec 2.3

Em termo bem popular, Salomão "encheu a cara"! Todo bêbado parece alegre....mas a ressaca veio, a dor de cabeça e a realidade continuavam ali. E o que ele busca então?

"Fiz para mim obras grandiosas; construí casas para mim; plantei vinhas para mim. Fiz para mim pomares e jardins; e plantei neles árvores de toda espécie de frutos. Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que se plantavam as árvores. Adquiri escravos e escravas, e tive escravos nascidos em casa; também tive grande rebanho de vacas e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém". Ec 2.4-7

Bom, agora Salomão torna-se um workaholic. Trabalhar, trabalhar e trabalhar...se o tal "deixa a vida me levar" não adiantou, quem sabe empreender grandes realizações? Obras faraônicas? Acumular riquezas? E ele acumula, acumula (...acumulei também prata e ouro, e províncias...), mas....NADA! O seu interior continuava o mesmo! E agora? Bom, que tal trocar o cd?

 "...reservei para mim cantores e cantoras..." (verso 8b) 

Hum....mudar a trilha sonora...ouvir outras coisas. Vistar museus, exposições de arte, ir ao cinema? E quem sabe...

"...e dos prazeres dos filhos dos homens: várias mulheres". (verso 8c)

Concubinas em grande número. Mulheres, orgias. Se isso resolvesse, ele estaria mais que feliz! Ele teve 1000 mulheres...mas quer saber? Nada novamente! 

Percebeu? Os métodos "modernos" de saciar a alma - noitadas, bebida, trabalho em demasia, prostituição - não podem e nunca poderão trazer o descanso que precisamos. Porque este descanso que tratamos aqui não é físico e nem psicológico...é da alma!

Sabendo disso, Jesus nos ensina que:

"Vinde a mim todos os que estais cansados, e carregados, e eu vos farei descansar. Tomai sobre vós meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossas almas". Mt 11.28,29


Algumas lições importante aprendemos aqui:

1 - o cansaço é uma realidade para todos nós: independente de origem, profissão ou classe social. Desde que o pecado entrou nesta terra, "...do suor do teu rosto comerás o pão..." (Gn 3.19). Sendo o cansaço uma realidade, temos então a segunda lição:

2 - ir a Jesus e tomar seu jugo: Há, no grego, um imperativo aqui (Ελθετε venha! ) que nos mostra a força deste convite. Não é algo despretensioso, mas quase que uma ordem para seus ouvintes: Venham! Jesus usa o exemplo pastoril de dois bois ligados entre si por uma canga, ou jugo. Isso facilitava o trabalho dos animais, pois era mais fácil suportar o trabalho e cansava menos. Temos, em Jesus, uma provisão de força onde podemos vencer os ventos contrários que procuram nos impedir de seguir em frente.

3 - aprender de Jesus: aprender aqui (μαθετε) traz aceitar o próprio Cristo, rejeitando a existência antiga e começando uma nova vida como discípulo dEle. Não se trata aqui de um aprendizado intelectual. É trazer para o âmago do homem a humildade e mansidão, contrários à natureza egoísta e pecaminosa do velho homem. É tornar-se um discípulo de Jesus em Sua essência...

4 - aprender a descansar nEle: Mateus usa aqui uma palavra grega (αναπαυσει) que tem o conceito de pausa. Jesus, então, nos chama para um momento de descanso em meio às atividades. Lembra de Marta e Maria? O problema de Marta não era trabalhar, mas trabalhar no hora errada! Existem momentos de pausa, onde devemos deixar nosso cotidiano de lado para focar em outra coisa - aqui, no ensino do Salvador. Qual a última vez que você realmente conseguiu para tudo o que estava fazendo e descansar? Quando foi a última vez que você passou algum tempo na presença de Deus, desfrutando de Sua companhia?

Deus está dizendo: quer vencer o cansaço? Descubra o foco dele!". E onde ele se aloja? Na alma (psiquê). Por isso ações e fatores externos não conseguem trazer o descanso. Se o cansaço é dentro, não há mulher, carro, posses ou dinheiro que resolva! Jesus sabia que o ser humano tende ao cansaço, e mais ainda, busca suprir de descanso a alma onde não há provisão para tal.

E por último: lembre-se da conjunção aditiva "e" na sentença de Jesus:

"Tomai sobre vós o meu jugo, E aprendei de mim...E achareis descanso para vossas almas"


Em Cristo,

Daniel