quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Jonas, Jonas...


É manhã em Israel. O sol nasce devagar, preguiçoso por dentre as montanhas enquanto um certo profeta faz seu desejum matinal. “O que dia trará?” pode ter sido seu primeiro pensamento. As idéias rodavam despretensiosas em sua mente, enquanto saboreava o leite e o pão feitos no dia anterior – “este será um dia promissor”, pode ter pensado, até que uma sensação de urgência começa a brotar em seu coração.
Ele sabia do que se tratava. Era o Senhor chamando sua atenção, pronto a lhe dar instruções sobre onde ele deveria ir profetizar a Palavra do Altíssimo, o Santo de Israel.
“Irei a Jerusalém?”, deve ter pensado…“ou quem sabe uma visita à Nazaré? Faz tempo que não apareço por aquelas bandas…” e então ela veio, a voz inconfundível do seu Deus:
“Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.”  (Jn 1.1,2)
Jonas fica paralisado….a fome repentinamente se esvai e os pensamentos agora pipocam em sua mente numa vertiginosa rapidez.
Nínive?
Nínive?
Nínive???
“Não pode ser….devo estar enganado”. Porém, ele não estava e sabia disso. A ordem era clara. E uma ordem surpreendente…Nínive era a capital da Assíria, uma nação perversa e considerada uma ameaça pelos israelitas. E o Senhor o estava comissionando justamente para profetizar àquele povo.
O momento é dramático (para não dizer cômico). O profeta não esboça nenhuma reação aparente. Ele guarda calmamente a louça, arruma a cama, faz as malas e sai. Não há palavras em seus lábios. Ele não ousa olhar para o céu, sabendo que o Senhor estava, de qualquer modo, observando tudo. Um medo tolo, como se Deus não conhecesse aquilo que se passava em seu interior. Jonas fecha o portão de sua casa e toma uma rápida decisão: “Bom…Nínive fica a uns 800 Km a noroeste daqui. Então vou para o outro lado, a sudeste, em direção à Tarsis”. E segue o profeta então em plena fuga.
É isso mesmo que você leu. A Bíblia diz que Jonas foge logo após receber a ordem do Alto. O que o motivou a fugir? Ele mesmo confessa a Deus – acompanhe:
“…sei que és Deus piedoso e misericordioso, longânimo e grande em benignidade e que arrependes do mal” (Jn 4.2b). Em outras palavras, Jonas fugiu por não querer ver a salvação de Deus operando no meio de um povo que ele não gostava e que considerava indigno da graça divina. A seus olhos, a justiça divina seria mais compatível com a destruição daquelas pessoas, e não a salvação.
Será que somos diferentes de Jonas? Estando separados dele pelo tempo e pelas  circunstâncias, podemos confortavelmente julgar sua atitude e bater no peito de maneira ufanista, dizendo: comigo seria uma outra história! Somos tão diferentes dele assim? Medite na possibilidade de nossos relacionamentos estarem debaixo de semelhante senso de justiça própria… Nas ocasiões onde excluímos (cônscios disso ou não) os que pensam diferentes de nós, sem nem ao menos darmos uma chance de ouvir o outro lado da história. Sim, infelizmente o egoísmo (e a falta de maturidade cristã) podem nos trazer uma leitura equivocada das pessoas e da realidade que nos cerca. Concluímos que nosso senso de justiça é o do Senhor – e quando descobrimos que não é, não suportamos a graça do Senhor e fugimos.
Nos afastamos das pessoas, dos relacionamentos, de Deus…abandonamos a misericórdia e abraçamos o legalismo. Deixamos de edificar para sermos apenas servidos. Se não é do meu jeito, como eu penso, então não quero mais… Infelizmente, esta “armadilha” da justiça própria coloca o homem até acima de Deus, o que pode infelizmente ocasionar no abandono da vida cristã.
Qual a cura disso? Ver como Deus vê – ou seja, ler a realidade a partir da perspectiva bíblica, nos colocando em nosso devido lugar e prontos a obedecer a Deus sem questionar. A cura envolve em receber dEle a visão correta; e é isso que o Senhor vai fazer com Jonas.
“…não hei eu de ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4.11).
Enquanto Jonas os enxergava como um bando de pervertidos e indignos de qualquer misericórdia, o Senhor os via como “…ovelhas que não tem pastor, perdidos e sem qualquer referência de onde buscar ajuda”. 
Lembre-se sempre disso: antes de julgar alguém, procure saber de sua vida. Suas lutas, as dificuldades que superou até chegar ali. É fácil emitir uma opinião a partir de um ponto de vista particular. Entretanto, é cristão estender a mão, abraçar e, com o coração embebido do amor de Cristo, afirmar: “Está tudo bem. Nosso Salvador não veio buscar os sãos, mas sim os doentes…” (Mt 9.12)
Em Cristo, 
Daniel

sábado, 3 de novembro de 2012

De que lado você fica?


Existem algumas verdades bíblicas que são inegociáveis: a inerrância das Escrituras, a Trindade, a salvação pela graça...e entre elas podemos destacar uma que em face das vicissitudes diárias enfrentadas por todos nós torna-se de algum modo esquecida: o destino que Deus tem para nossas vidas é bom.
Permita-me repetir isso: o destino que Deus tem para nossas vidas é bom. Se necessário, leia mais uma vez, e deixe que estas palavras sejam absorvidas como água que se derrama sobre terra seca.
Uma sentença assim abre diversos ângulos de discussão: qual o conceito bíblico sobre a palavra destino? Como ter a certeza de que ele é bom? Onde está a bondade de Deus no meio de tanto mal? Por que sofro tanto se Deus é bom? No entanto, o intuito deste texto não é analisar exaustivamente estas indagações, mas lançar luz sobre o tema da bondade de Deus de nossa postura frente à isso.
Para tal, teremos o texto de Jeremias 29.11(NVI) como norte nesta reflexão:
Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês", diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes ESPERANÇA e um FUTURO." (grifo nosso).
O que a Palavra ensina? Que há um plano em ação nos conduzindo, dia após dia,  a um futuro de prosperidade esperançaPodemos ter vivido um passado de dor e fracasso, porém ele não é capaz de impedir a manifestação da vontade soberana de Deus. Em outras palavras, o passado fez parte do processo de construir quem você é hoje, mas não determina quem você será amanhã. A verdade é que a história de sua vida ainda não acabou. O Senhor é claro ao afirmar: "Eu tenho um plano, um futuro de esperança para fazê-lo prosperar". Vale lembrar que o termo prosperidade não é restrito à finanças, mas abrange a vida humana como um todo; Deus mesmo fornece os subsídios de modo a  fazer cumprir Seus propósitos e glorificá-lo. Se respondemos a isso, se formos fiéis no pouco, sobre o muito Ele nos colocará (Lc 16.10).
Entretanto, falar em destino não é isentar o homem de sua responsabilidade em responder aos mandamentos de Deus. O mesmo Senhor que ordena sede santos (1Pe 1.16) mostra nossa incapacidade humana de fazê-lo (ou sê-lo) sozinhos (...sem mim, nada podeis fazer... Jo 15.5). Portanto, estas duas afirmações que, a princípio parecem contradizentes, na realidade de algum modo se auto-complementam e nos trazem ao segundo princípio que abordaremos: temos responsabilidade sobre o destino que nos aguarda. Nosso propósito no Reino não acontece de forma involuntária, automaticamente. O Senhor estabelece os planos, cria as oportunidades e nós temos que responder a elas. Com o intuito de estabelecer de forma mais clara estes princípios, vamos nos encontrar com Josué, no momento onde ele estava na liderança dos israelitas e na expectativa para entrar na Terra Prometida.
Moisés havia sido o instrumento escolhido por Deus para libertar Seu povo da escravidão no Egito. Foram cerca de quatrocentos anos, tempo no qual uma nação de aproximadamente três milhões de pessoas floresceu a partir da família de Jacó ( Ex 1.7). Após o saída miraculosa e a passagem pelo Mar Vermelho, foram quarenta anos de permanência no deserto, como resultado do juízo de Deus em resposta à incredulidade do povo frente a revelação divina (Nm 13). Conforme àquilo que o Senhor havia pronunciado, a primeira geração morrera no deserto e a incumbência de liderar a nova geração na conquista da Terra Prometida estava nas mãos do jovem líder. Vejamos então o que nos ensina o relato bíblico, extraindo os princípios ali contidos de forma a aplicá-los em nossa caminhada cristã.
Vale a pena, antes, ressaltar: o destino que o Senhor tem para as nossas vidas é bom. 
Vamos lá?
O livro de Josué começa narrando alguns fatos significativos:
Depois da morte de Moisés, servo do SENHOR, disse o SENHOR a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: "Meu servo Moisés está morto; levanta-te, pois, agora, passa este Jordão, você e todo este povo, preparem-se para entrar na terra que eu estou para dar aos israelitas. Como prometi a Moisés, todo lugar onde puserem os pés eu darei a vocês. Seu território se estenderá do deserto ao Líbano, e do grande rio, o Eufrates, toda a terra dos hititas, até o mar Grande, no oeste”. (Js 1.1-4)
Atente às primeiras palavras do texto: "Depois da morte de Moisés...". Creio que muitos aqui já ficariam paralisados frente a este "aparente obstáculo": a morte de Moisés.  Você consegue imaginar o tamanho do desafio? Suceder o grande legislador? E como se não bastasse, o destino de três milhões de pessoas estava agora em suas mãos. No entanto, Deus é específico em afirmar isso a Josué logo no versículo dois, já chamando ele à ação: levanta-te! Há uma atitude enérgica aqui; a palavra levanta-te (no hebraico qum - קום) tem o sentido dentre outras coisas de "ficar de pé a partir de uma posição prostrada". Com isso, o Senhor estabelece alguns pontos fundamentais com Josué antes de sua jornada:
1) Moisés morrera: ele era o alicerce que até então mantivera o "povo unido" através da Lei. No entanto, o propósito em sua vida havia se cumprido e o Senhor mesmo não permitiu que Moisés fosse o líder na conquista. Interessante pensar que, como Moisés fora o mediador da Lei e não entrou na Terra Prometida - ele apenas a viu de longe (Dt 34 - fato que mais tarde o escritor de Hebreus cita como tendo-as visto de longe (Hb 11.13), pode-se inferir que a Lei não conduziu o povo à Terra, mas sim a fé na promessa. Josué (do hebraico yehoshua - יהושע"o Senhor é a salvação") torna-se então um tipo de Cristo, levando o seu povo à salvação, à promessa divina revelada. A Lei apontara o caminho, mas a fé seria o instrumento de conquista.
(continua...)