quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um acerto de contas...



“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” Rm 8.29

Você já parou para pensar sobre o plano geral que o Senhor tem para sua vida? Já se perguntou a respeito do interesse do Pai em trabalhar, com paciência, em sua existência e em seu caráter?

No versículo acima, vemos que o Criador, em sua presciência, já conhecia a cada um de nós e assim planejou para que fôssemos conforme a imagem de Seu Filho. Mas o que seria, então, ser a imagem de Jesus?

Para entendermos este conceito, vamos um pouco mais além. Aprendemos anteriormente que a redenção operada por Jesus alcançou todas as esferas da vida humana, não se restringindo apenas a “salvação eterna”. Ela opera aqui e agora na restauração dos nossos relacionamentos, na maneira como lidamos com as adversidades, na perspectiva com que compreendemos o mundo. Portanto, à medida que a salvação opera em nós, vamos também voltando ao plano original de Deus, de sermos aqui na terra representantes de seu Reino, feitos conforme sua imagem e semelhança. E ser a imagem de Deus é ser um representante do Criador, estabelecendo Sua autoridade no mundo e sustentando Seus direitos como Senhor; ou seja, a criação teria no homem a figura da vida e do Senhorio de Deus. Vemos isso na vida em Jesus como representante do Pai na terra, afirmando que quem O via, via o Pai (Jo 12.45). Ele restabeleceu este principio perdido na queda do homem, disponibilizando-o a todos nós. E é nosso dever representar o Pai perante a criação.

Interessante porque a palavra usada no original para semelhança, no texto de Gênesis, é usada por Paulo ao escrever o versículo acima! Assim, é necessário avaliar o quanto, em nosso dia a dia, representamos o Reino, o quanto temos a imagem de Deus restaurada em nós.

Mas alguns pontos-chave precisam ser trabalhados em nós. Sabemos que não servimos a um Deus fragmentado, alheio ao cotidiano da vida humana, mas sim, a alguém que é tudo em todos. Como afirma Abraham Kuyper, importante estadista e teólogo holandês do século 19, “Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: é meu!”. E importa que hoje avaliemos o quanto temos servido e vivido como inteiros, experimentando o processo de restauração de nossa identidade como filhos de Deus, ou o quanto ainda carregamos o fardo de uma vida fragmentada, alheia ao fluir da vida que brota da intimidade com o Pai. Pois é um processo natural para todo aquele que recebe o Reino experimentar a redenção da sua existência, a começar aqui e agora.

Anteriormente, vimos que Jacó havia saído de sua casa e rumado ao lugar indicado por seu pai. Ele atravessa o deserto, encontra-se com seu tio Labão, e ali a sua vida se desenvolve. Após muitos anos, Jacó recebe a ordem de Deus para retornar à terra de seus ancestrais, e algo interessante observamos no mandamento dado por Deus:

“Eu sou o Deus de Bet-El, onde Me erigiste um altar, onde Me fizeste uma promessa. Agora, levanta, sai desta terra, e volta à terra do teu nascer”. Gn 31.13

Deus ressalta um lugar específico em sua jornada, onde promessas foram feitas. Um marco onde o Pai havia marcado e mudado a história de Seu filho. Ali Jacó recebera a promessa de Deus (Gn 28), de ter a sua descendência como a areia do mar quando nem esposa ele ainda tinha! Ali ele tem a visão da escada que ligava a terra ao céu; ali sua vida mudava para sempre. E em seu processo de reconstrução de sua identidade, Deus tencionava aprofundar Seu tratamento com Jacó e, para isso, faz menção novamente ao altar.

O altar nos fala de sacrifício, de morte, de entrega. Onde o ego e a natureza carnal morrem, dando lugar a vida de Deus em nós. Procurações não têm validade; nós mesmos devemos encará-lo. Pois não há cura e restauração sem que passemos por ele. Não há acerto de contas sem altar.

À medida que se aproxima da terra de seus pais, ele recebe a noticia de que seu irmão Esaú vinha a seu encontro. E com quatrocentos homens! Certamente Jacó imaginou que aquele seria seu fim. Por isso, ele decide novamente “dar um jeito”, dividindo sua comitiva em duas, além de enviar presentes para que a ira de Esaú fosse aplacada. Como havia feito durante toda sua vida, novamente Jacó teria de sobreviver, a despeito das promessas de ajuda recebida da parte de Deus. Mas agora, Deus vai removendo suas “muletas”, para que pudesse aprender que a salvação vinha apenas do Senhor! Como sua angustia aumentava a cada instante, ele ora a Deus e faz menção das promessas recebidas. Finalmente, ele se encontra sozinho no Vau de Jaboque, onde tem um encontro face a face com Deus. Ali ele recebe uma marca, e só depois ele vai se encontrar com Esaú.

Vemos nesta situação Deus claramente agindo no sentido de tirar todo apoio de que Jacó poderia dispor. Suas posses, empregados e até sua família. Sua intenção era deixá-lo só, o que de fato aconteceu, de modo que pudesse trazer à tona seus medos e sofismas para tratá-los e curá-los. Jacó agora, mesmo lutando, aprendia que dali em diante ele não poderia mais viver usando de subterfúgios, mas da dependência de Deus para todas as coisas. Um novo tempo começara em sua vida.

Só então ele vê o milagre de Deus. Seu relacionamento com Esaú é restabelecido, e ele parte em direção à sua jornada, a terra de seus pais. Interessante o que a Palavra nos relata deste momento:

“E veio Jacó, íntegro (shalom), à cidade de Shechem, que está na terra de Canaà…E erigiu ali um altar e denominou-o: Deus , o Deus de Israel”. Gn 33.18-20

Interessante que, no texto original, a Palavra descreve o novo estado de Jacó como íntegro: shalom. A idéia da palavra shalom não é apenas paz, mas entrar num estado de integridade e unidade, de participar de um relacionamento restaurado; paz, prosperidade, bens, saúde, inteireza, segurança. A vida de Jacó nunca mais foi a mesma. Mais tarde, ele volta a Bet-El, e tem sua nova “identidade ”confirmada por Deus, depois de edificar novamente no lugar onde Deus lhe havia aparecido.

Portanto, não devemos temer o altar de Deus! Não devemos nos angustiar quando o Pai tira todo apoio que temos, e nos deixa vulneráveis, de modo que tudo o que há em nosso interior venha à tona, e Ele mesmo possa tratar. O caminho do altar é um caminho de solidão, de morte…mas seu fim é a vida! É ali onde acertamos nossas “contas” com Deus, e nos tornamos “inteiros”, para vivermos novos tempos de conquistas. É necessário que velhos hábitos sejam deixados de lado, a fim de que o novo venha a nós. Precisamos, agora, não apenas ter a shalom, mas ser a shalom!

Naquele que é o Sar Shalom, o príncipe da paz,

Daniel Ben Iossef

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