segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Chamados ou impelidos? * - parte 1

Jesus encontrou diversos homens na Bíblia. Ricos, cultos, de posição social elevada... mas na hora de escolher seus doze, selecionou pessoas que provavelmente eu e você não chamaríamos.

Mas o que levou levou Jesus a escolher estes homens, e não aos outros? Talvez (e tudo isso é pura especulação), se eles tivessem se engajado no grupo, teríamos descoberto mais tarde que suas agendas estavam cheias, mais cheias do que poderiam ter parecido a princípio. Teríamos descoberto que eles tinham seus próprios planos, metas e objetivos.

Jesus Cristo não pode realizar uma obra eficaz no mundo interior de pessoas que se regem por seus impulsos. Jesus parece preferir trabalhar com pessoas as quais chama. É por isso que a Bíblia nem toma conhecimento dos voluntários; atém-se apenas nos chamados. Jesus em certa ocasião contava com 70 discípulos, mas apenas 12 tiveram seu nome registrado nas Escrituras.

Mas como diferenciar um impelido de um chamado ?

Dentre as características de um impelido, podemos destacar:

1) as pessoas impelidas, na maior parte dos casos, só se satisfazem ao ver o trabalho realizado.  

Ou seja, ao longo de seu processo de amadurecimento, esta pessoa fixou a noção de só se sentir bem consigo mesma e com o mundo na medida que acumula realizações. Talvez aqui  encontremos pais que só elogiam os filhos quando estes tiram a nota máxima; antes disso,  nenhuma palavra de incentivo ou aprovação.

Pessoas assim tendem a viver em “ativismo” muito facilmente, pois quanto mais atividades,maior a possibilidade de realizações. Cria-se um círculo vicioso.

2) a pessoa “impelida” está sempre preocupada com os símbolos associados à ideia de realização.

São aqueles que vivem em função de mostrar aos outros seu poder, status e títulos. Vivem mais para os outros que para si mesmos e sua família.

3) a pessoa “impelida” geralmente se acha dominada por uma descontrolada busca de superação.

Possui grande senso de competitividade, e em todas as áreas busca ser o melhor de todos. Nunca estão satisfeitos com sua vida profissional, relacional e espiritual. Raramente se agradam do serviço feito por seus subordinados ou seus iguais. Vivem num constante estado de insatisfação e inquietação. Dificilmente estarão satisfeitas consigo mesmas ou com os outros.  

4) a pessoa “impelida” parece ter pouca consideração para com os princípios de honestidade. 

Elas se acham tão envolvidas na busca pelo sucesso, na ânsia de realizar, que quase não tem tempo de parar para verificar se seu interior está acompanhando o que se passa no exterior. Esta lacuna criada por fazê-lo operar no pragmatismo, tomando atalhos para sua vida, onde os fins justificam os meios. É um processo de engano sutil, que pode levá-lo à ruína.

5) a pessoa “impelida” muitas vezes possuem pouca ou nenhuma habilidade no trato com os outros. 

Dar-se bem com seus semelhantes não é uma qualidade desse indivíduo.  Para ele, seus projetos são mais importantes que seus próximos. Eles conseguem que seus projetos se realizem, ao custo de destruir seus relacionamentos.  Na Bíblia, encontramos um exemplo clássico de alguém impelido. Saul, rei de Israel. A própria
introdução de Saul no cenário bíblico já devia ser uma indicação de que ele possuía algumas falhas que poderiam levá-lo a perder o autocontrole, o que acabou acontecendo. Vejamos:

"Ora, havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate,  filho de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso. Tinha este um filho, chamado Saul, jovem e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo de que ele; desde os ombros
para cima sebressaía em altura a todo o povo".  1Sm 9.1,2
Vemos aqui 3 benefícios que Saul possuía, recebidos ao nascer, que poderiam redundar em vantagem ou desvantagem para ele. Ele mesmo teria que decidir como iria utilizá-los, dependendo do que se passasse em seu mundo interior. São eles: riqueza, boa aparência e  porte físico destacado.

Três atributos que fazem parte do mundo exterior das pessoas, que chamavam a atenção dos outros para si. Estes atributos o revestiam de certo carisma, que contribuiu para que atingisse o sucesso rapidamente. Em suma, ele teve uma largada rápida.

Quando se tornou rei de Israel, obteve logo muito sucesso. Ao que parece, isso impediu que enxergasse suas limitações. Ele não deu muita atenção ao fato de que precisava dos outros, do relacionamento com Deus, nem de encarar suas responsabilidades como rei. Saul se tornou um homem atarefado. Via espaços vazios que achava que deveria ocupar. Então,  na ocasião em que estava para sair à guerra com os filisteus e esperava Samuel em Gilgal, na sua impaciência e irritação ele mesmo ofereceu o holocausto, o que ocasionou o declive definitivo em sua vida.

A Bíblia relata diversas demonstrações da sua explosiva cólera, o que o levava a cometer abusos e a uma imobilizante autopiedade. Ao final de sua vida, ele era um homem totalmente desorientado. Saul nunca havia colocado em ordem seu mundo interior.

Há esperança para os impelidos?

Isso é o que veremos no próximo post...

* Adaptado do livro "Ponha ordem no seu mundo interior", de Gordon MacDonald.


 

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