domingo, 25 de setembro de 2011

Tem saída um beco sem saída?

As crises....

Como uma torrente repentina de águas, um vento impetuoso que chega sem avisar...ou mesmo quando sabemos das consequências de nosso atos, mas no íntimo torcemos para que, de algum modo, possamos acelerar o tempo ou evitar encarar a crua realidade prestes a nos tomar de assalto. E a sensação de impotência só tende a aumentar... os minutos se transformam em horas, e cada movimento do relógio parece denunciar a sombra que lentamente recai sobre nós...

As crises...

Algumas são imprevisíveis como um ladrão na noite, prestes a se abater sobre sua vítima. E de uma hora para a outra, passamos a lutar com um intruso que procura roubar a nossa rotina, ocupando nossa mente com sua incômoda presença. De certo modo, muitas vezes parece ser mais fácil (se é que isso é possível) lidar com situações assim. Ninguém, debaixo do sol (como diria o rei Salomão) está isento de algo dessa natureza.

Mas e quando somos nós quem provocamos as crises, onde a mente torna-se obsessiva ao recordar os momentos antes de determinadas atitudes? Quando nossos pensamentos rodam em torno do "E Se...."? Sim, a situação torna-se, na maiorias das vezes, insuportável.

Em certa ocasião, o rei Davi, após longo período de guerras e vitórias, resolve relaxar sua rotina e, ao invés de sair à guerra como sempre fizera, resolve ficar em casa. "-Vá Joabe...vença por mim e me traga os despojos da guerra..". Esse invariavelmente é o começo de muitas crises - deixamos de lado nossas responsabilidades e permanecemos onde não deveríamos mais estar. O lugar de Davi era na guerra, mas ele resolve ficar em casa. Do mesmo modo, quantas vezes relaxamos demais com as nossas obrigações? Deveríamos estar trabalhando, mas jogamos paciência no computador...um sofá e uma TV ao invés de estudar... achar que a escola ou a igreja tem o papel disciplinar e ensinar os filhos, enquanto estamos ocupados demais conosco mesmos... deixar para terapeutas resolverem nossos problemas conjugais, e não tomamos providência alguma, a não ser pagar o analista...

O resultado da omissão de Davi? Uma mulher que não era sua esperando um filho seu, um de seus leais soldados assassinado por ordem dele mesmo, e o sangue derramado que cobraria um alto preço em sua casa.

As crises...

Vejamos o que acontece em seguida:

"E buscou a Davi a  Deus pela criança; e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite prostrado sobre a terra: então os anciãos da sua casa se levantaram e foram ter com ele, para o levantar da terra: porém ele não quis, e não comeu pão com eles". 2Sm 12.16-17

O que se passava na cabeça de Davi? Teria ele revivido os momentos no terraço, onde contemplava aquela mulher? Quem sabe rememorando os momentos anteriores à ordem para a trazer diante de si...ou o conselho ignorado de Joabe (ela não é sua mulher, mas de Urias...)... Quantas vezes já nos sentimos assim, olhando no espelho e pensando: se ao menos....eu não atendesse aquele telefonema, ou não retribuísse o olhar...ou não aceitasse o suborno...ou não cedesse à pressão da maioria... Se ao menos...

Mas o fato é que, depois de confrontado pelo profeta Natã (cerca de 12 meses depois do fato) lá estava ele,enfrentando a realidade da sentença de morte que pairava sobre a criança e diante dAquele que poderia realizar o milagre. 

Interessante a atitude dos servos, apreensivos sobre o que fazer com o rei. "Será que podemos ajudar em algo? Quem sabe possamos fazer alguma coisa para amenizar sua aflição"...porém o rei prontamente recusa qualquer ajuda. A dor é grande o bastante para lhe roubar o sono, a fome e a companhia de seus amigos. Natã, seu conselheiro, profeta e amigo não aparece na cena. Ninguém estava em condições de ajudar Davi, assim como também estamos muitas vezes sozinhos em momentos como esses. Por mais bem intencionadas que sejam, a ajuda que precisamos não é humana, mas divina. E precisamos encarar isso de frente, pois tal atitude pode evitar um desastre maior ainda. Aliás, o que poderia ser pior do que contemplar os efeitos de nossas falhas?

Creio que perder a e a esperança...

Mas não vamos adiantar o assunto...vejamos o desenrolar da cena:

"E sucedeu que ao sétimo dia morreu a criança; e temiam os servos de Davi dizer-lhe que a criança era morta, porque diziam; Eis que, sendo a criança ainda viva, lhe falávamos, porém não dava ouvidos à nossa voz; como pois lhe diremos que a criança é morta?Porque mais mal lhe faria. Viu porém Davi que seus servos falavam baixo e entendeu Davi que a criança era morta, pelo que disse Davi a seus servos: É morta a criança? E eles disseram: é morta" 2Sm 12.18-19

Chega então a notícia de que a criança havia falecido. Nada mais se podia fazer. Que atitude nos sobra em situações assim? O grande perigo aqui é deixar-se arrastar ainda mais para o fundo do poço. O coração pode tornar-se cheio de medo e culpa e o amanhã passa a ser um quadro negro sem perspectiva alguma. Muitos aqui tornam-se tão amargurados consigo mesmos e com a vida que chegam ao ponto de não suportarem nem mais respirar, e acabam tirando sua própria vida. Realmente, o quandro é desesperador. 

Mas há outro caminho...observe a atitude de Davi:

"Então Davi se levantou da terra, se lavou, e se ungiu, e mudou de vestidos, e entrou na casa do SENHOR, e adorou: então veio a sua casa e pediu pão; e lhe deram pão e comeu". 2Sm 12.20

Impressionante! Ao invés de declarar luto oficial no reino, de lamentar com todos ou se esconder em alguma caverna no deserto, Davi se levanta e retoma sua rotina! E quem, na rotina do salmista, recebe a "primeira visita"?

O Senhor! O Grande Pastor, fonte de inspiração em tantos momentos de oração...aquele mesmo que o havia adestrado na guerra, o treinado no anonimato e o chamado para pastorear a nação de Israel. Antes de suprir suas necessidades físicas (pois estava em jejum), Davi procura seu Pastor e o adora  - a palavra hebraica aqui traz a ideia de que ele se prostra diante de Deus - numa atitude de submissão à Sua vontade. "Certo, Senhor...se é Sua vontade levar a criança, eu aceito, certo de ter feito tudo o que pude por ela. Mas a vida continua...e vou tratar de vivê-la da melhor forma que O agrade"... Isso nos leva ao próximo ponto: prosseguir com a vida...

Claro que não é fácil. Falar de um fato como este e vivê-lo em sua intensidade são coisas bem diferentes. Porém todos nós, em maior ou menor grau, passamos por momentos assim. Talvez o que esteja diante de você não seja um inocente correndo risco de morte, mas os papéis de divórcio que chegaram pelo correio. Ou a ordem de despejo, os papéis da falência, a carta de demissão...de algum modo a crua realidade senta-se ao seu lado, com uma pergunta nos lábios: "e agora"? O que vai fazer daqui para frente?

Veja o que Davi fez:

"E disseram-lhe seus servos: que é isto que fizeste? Pela criança viva jejuaste e choraste; porém depois que morreu a criança te lavaste e comesse pão. E disse ele: vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia: Quem sabe ainda o SENHOR se compadecerá de mim, e viva a criança? Porém, agora que ela é morta, porque jejuaria eu agora? Poderei eu fazê-la mais voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará a mim" 2Sm 12.21-23

Eu fico impressionado com a postura de Davi. Sua visão clara dos fatos é extraordinária. Ele sabe que nada mais pode fazer pela criança. Veja como uma compreensão clara de como a vida funciona traz um discernimento que é importantíssimo em momentos de crise. Ele sabia certamente do que, há algum tempo, Deus havia falado a respeito de Saul ao seu antigo mentor, Samuel:

"Então disse o SENHOR a Samuel: até quando terás dó de Saul, tendo eu o rejeitado, para que não reine sobre Israel? 1Sm 16.1a

A sutil armadilha aqui é se lamentar e jogar as âncoras de sua vida no passado. Assim como Samuel se lamentava do fato de Saul ter sido rejeitado por Deus como rei, ao invés de procurar onde Deus faria sua próxima ação, também ficamos "ruminando" coisas, fatos e pessoas que passaram por nossas vidas. E na grande maioria das vezes são situações onde sonhamos com alguma coisa bem diferente daquilo vivenciado no hoje. Se eu estivesse neste emprego...morando naquele lugar....não tivesse deixado de lado a fé...se eu continuasse por mais um pouco...

Davi podia ter caído em qualquer uma dessas armadilhas, mas não. Ele tinha um conhecimento suficiente do caráter de Deus para interromper os planos em sua vida. Qual era mesmo o seu chamado? Ser o pastor de Israel - o rei. Pois mesmo diante de tal tragédia familiar, ele faz o melhor que pode. Enfrenta a realidade como ela é, e não se esconde atrás da depressão ou deixa-se iludir com qualquer coisa. 

Poderei eu fazê-la mais a voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará a mim... aqui está a chave! Quanto tempo jogamos fora insistindo que coisas que já foram, que não voltarão? O melhor a fazer é juntar os cacos do que sobrou e continuar a viver o plano de Deus...veja o que fez Davi:

"Então consolou Davi a BateSeba, sua mulher e entrou a ela, e se deitou com ela: e teve um filho, e chamou seu nome Salomão: e o SENHOR o amou". 2Sm 12.24 (grifo nosso)

Observe que Davi toma BateSeba por sua mulher, assumindo a responsabilidade sobre ela; ele não a rejeitou, mas a consolou e deu continuidade a sua vida. Creio que temos aqui um claro indício de como Davi administrou bem aquela situação ao nomear seu próximo como Salomão(שלמה). A raiz hebraica deste nome (a mesma da palavra שלום shalom), que tem o sentido, segundo Strong's de terminar ou completar algo; entrar num estado de integridade e unidade, de participar de um relacionamento restaurado. Em seus dois atos finais aqui, percebemos duas atitudes vitais: assumir as responsabilidades (ou se posicionar), o qual foi o estopim de toda esta situação (lembre-se de que ele deveria ter ido à guerra) e fechar o ciclo. O que importava era o que aconteceria dali em diante. Deus mesmo o havia ensinado a viver desta forma, desde o tempo em que pastoreava as ovelhas de seu pai, Jessé.


Portanto, ao fim desta leitura específica da vida do "matador de gigantes", algumas lições devem ficar gravadas em nossos corações:

1) Nunca abandone sua posição: seja no lar, no trabalho ou nos relacionamentos que possui. Muitas vezes o  marido é displicente com suas responsabilidades, sobrecarregando a mulher e os filhos; ou  a esposa não entende que nas suas mãos está a escolha de edificar ou não seu lar (Pv 14.1). Há uma posição que, se abandonada ou desprezada, traz consigo sérios danos que podem se estender por gerações.

2) Procure ajuda no lugar certo: Davi sabia que só havia um lugar onde buscar socorro: o SENHOR. em determinadas situações, nenhuma pessoa pode nos ajudar. A Palavra promete ajuda em tempo oportuno (Hb 4.16) e ir diretamente à fonte é certeza de esperança ao invés do desespero.

3) Não seja ingênuo, mas faça a leitura correta dos fatos: Davi conhecia Deus o suficiente para poder se firmar em crises como essa. Ele sabia que a criança só viveria se Deus agisse, e buscou isso com tudo o que pode. Mas assim que soube da resposta de Deus, não O culpou, nem aos outros. Ele fez o que melhor podia fazer com tudo aquilo, e seguiu em frente - exatamente o que nos leva à próxima lição:

4) Submeta-se à sabedoria divina: com certeza, não entendemos muitos das ações divinas, pois nossa visão acerca dos fatos é muito limitada. Independente do que fosse acontecer, Davi confiava o suficiente em Deus para aceitar que os caminhos do Pai eram mais altos que os seus. Então, não lute contra Ele, mas aceite com um coração contrito que Deus sabe o que faz. Nós não.

5) Continue em frente: Davi não abandonou seu chamado de ser Rei sobre Israel. Ele, como Paulo escreveria anos mais tarde, esqueceu das coisas que para trás ficaram e avançou para as que estavam diante dele (Fp 3.14). Davi consolou BateSeba e teve outro filho com ela. E aqui temos o ponto final de tudo. O nome que ele deu ao menino, Salomão - como um marco final da crise existente em sua vida. Isso estava tão vívido em seu interior ao ponto de, sempre que porventura as acusações passadas viessem a ele, Davi podia olhar para seu filho e lembrar: aquele ciclo terminou...eu hoje continuo vivendo o chamado que recebi do Senhor, e vou continuar a fazer o melhor que posso para agradar o meu Pai Celestial...

Que os Salomões possam nascer em nossas vidas! 

Em Cristo, 

Daniel









quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Isso o seguro não cobre...


Pense por um momento nas coisas que possuem valor para você. Certo...agora pense naquelas que possuem um alto valor agregado. Certo...agora, naquelas onde você, de algum modo, procura guardar com mais cuidado - talvez até através de um seguro.

Interessante ver como buscamos proteger aquilo que mais importa para nós. No campo das coisas materiais, a casa, o carro, recursos financeiros... na esfera emocional, o casamento, amizades.... no âmbito pessoal, nossos sentimentos, emoções, identidade.... e a lista é certamente extensa. Mas existe algo mais a ser preservado, que na grande maioria das vezes é ignorado?

Leia atentamente este versículo:

"sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida". Pv 4.23

Interessante o texto. É natural preservar as coisas importantes para nós, como citamos acima. Um bom mordomo dos depósitos divinos sabe que os recursos em suas mão são um presente da graça divina, e o objeto final de tudo é a glória de Deus. Porém, a Palavra afirma com clareza de que acima de todas estas coisas, devemos guardar o nosso coração! E quantos de nós faz isso?

Guardamos tantas coisas...e isso é correto, mas acima de tudo isso, o nosso coração tem ficado na maioria das vezes exposto à todo tipo de lixo. E há um motivo claro para a importância de guardá-lo: dele procedem as saídas da vida... Em outras palavras, se o meu coração estiver bem, guardado, as outras esferas de minha existência estarão em equilíbrio. Caso contrário...

O problema é que esquecemos este princípio - e lutamos no intuito de preservar nossos sentimentos, relacionamentos, a família e ignoramos a fonte do bem estar de tudo isso. Mas aí surge a pergunta: como guardar o coração? Vivendo em meio ao caos social e a um mundo caído, longe de Deus, como guardar o coração de tanto lixo? Será que uma vida de isolamento pode trazer a resposta? Não, não traz... alíás, a origem de muitos dos males vivenciados  hoje é bem outra...

"porque do coração saem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicações, furtos, falsos testemunhos e maledicências" Mt 15.19

De onde saem todas estas coisas? Do coração! Certo...e como elas foram parar lá?

Bom, este texto não trata da origem do pecado, da natureza caída que o homem possui. Mas vamos focar em como este tipo de lixo entra tão facilmente em nós, e faz ali morada sem que nos apercebemos disto.  Podemos encontrar em Gênesis uma história bastante interessante que pode nos indicar um tipo de atitude a ser tomada em nossa rotina. Acompanhe:

"e todos os poços, que os servos de seu pai tinham cavado nos dias de seu pai Abraão, os filisteus entulharam e encheram de terra [...] e partiu dali, e cavou outro poço, e não porfiaram sobre ele; por isso chamou o seu nome Reobote, e disse: Porque agora o Senhor nos alargou, e crescemos nesta terra" Gn 26.18-22

Aqui Isaque encontra-se no meio de uma luta pelos poços que haviam sido cavados nos tempos de seu pai, Abraão. Observe o meio usado pelos filisteus para impedir Isaque de estabelecer-se na região: entulhar os poços! Bom, se num poço há água, e ela é o meio pelo qual a vida subsiste, fechar os poços impediria a água de fluir e, consequentemente, Isaque teria que sair da região. Entretanto, Isaque insiste e vai cavando outros poços até que os filisteus não o incomodam mais. Aí sim ele pode afirmar que o Senhor o fez crescer naquela terra.

Do mesmo modo, a responsabilidade de guardar o coração não é de Deus, mas nossa! A ordem é para todos nós: guarde seu coração... atente para o fato de que todos os dias entulhos são jogados em nossos corações...uma palavra mal colocada, um olhar de reprovação, um gesto de rejeição, uma linha de pensamento destrutiva... certamente estas coisas virão. Mas ainda assim a ordem continua firme: ...guarde seu coração...

Devemos fazer como Isaque: ele perseverou em cavar poços até que achasse água, e o inimigo não mais atuasse nesse sentido. Portanto, é nossa responsabilidade "filtrar" todo pensamento contrário às Escrituras que porventura queira tomar nossa mente de assalto. A Bíblia em diversas ocasiões trata disso, e vamos aqui destacar dois textos:

"...derrubando os sofismas e e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo" 2Co 10.5 (grifo nosso)

"quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai" Fp 4.8 (grifo nosso)

Bom....os textos falam por si só. Mas vale ressaltar a pró-atividade encontrada em ambos, de levarmos os pensamentos cativos à Cristo e a ocupar nossa mente com os preceitos da Palavra. O que sair deste prumo deve ser prontamente rejeitado. Uma atitude de vigilância, e não de passividade, nos é requerida. Este é um processo diário, de analisar com uma mente balizada na Palavra toda sorte de pensamentos e imaginações que brotam em nosso consciente, e prontamente rejeitar tudo o que fere as Escrituras e meditar no que é saudável, que traz vida e esperança. Alías, meditar na Lei do Senhor é uma das características de todo homem de Deus bem sucedido (vide Salmo 1).

Jesus mesmo, em Sua vida terrena, enfrentou as mesmas situações vivida por nós - e em intensidade bem maiores! E naturalmente, olhando para a vida do Mestre aprendermos sua maneira simples e eficiente de colocar frente a frente toda informação recebida por ele e checar com as Escrituras. Se fosse verdade, entrava. Se não fosse....

Observe este embate clássico entre nosso Senhor e Satanás:

Mateus 4:1 Então, foi Jesus conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
2 e, havendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome;
3 E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.
4 Porém respondendo ele, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus.
5 Então o diabo o levou à Cidade Santa, e o pôs sobre o pináculo do templo,
6 e disse-lhe: Se tu és o filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque escrito está, que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca com teu pé tropeces em alguma pedra.
7 Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.
8 Outra vez o levou o diabo consigo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e sua glória deles.
9 E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares.
10 Então, disse-lhe Jesus: Vai-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás.

Impressionante o nível da batalha: no diálogo! Duas estruturas de pensamento estavam se chocando, a o ponto de referência para Jesus - o que o levou à vitória - foi combater os argumentos de Satanás com a Palavra! Em nenhuma das três ocasiões, mesmo aquelas onde o diabo cita as Escrituras de forma deturpada, os conceitos transmitido pelo inimigo foram aceitos por Jesus. Nem o caminho mais fácil, nem a provocação na identidade, nem a demonstração de poder...(só isso já dá outro post....)

A atitude de Jesus foi prontamente confrontar aquelas linhas de pensamento com a Palavra, e ao tempo em que eram rejeitadas, Satanás foi perdendo terreno e saiu dali derrotado.

Que possamos nós, pelo mesmo Espírito que conduziu Jesus ao deserto, manter nossas mentes ativas e vigilantes, levando todo pensamento cativo à obediência de Cristo e guardando nosso coração...

Se hoje é o dia para desentulhar seu coração, que tal começar agora mesmo?

Solideogloria

Daniel

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A glória do comum

Quanto vale a sua atenção?

Qual o valor de 30 segundos de sua vida?

Pode-se pensar em valores irrisórios, ou mesmo nenhum...afinal de contas, estamos falando de 30 segundos! Mas se pensarmos no orçamento destinado a publicidade todos os anos, iremos constatar que 30 segundos de nossa atenção são valiosíssimos! Se atualmente tanto valor é dado à ela, porque nós mesmos não lhe damos a devida importância?

Certa vez Jesus afirmou que: "A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão tais trevas!" Mt 6.22,23

O contexto original deste discurso está relacionado à avareza - olhos bons referem-se a uma pessoa doadora, e olhos maus a um avarento - mas podemos extrair daqui um princípio relacionado à maneira de compreender a realidade que nos cerca: o modo como vejo a realidade à minha volta determina como ela é. Como o princípio da visão é altamente significativo para o ser humano, podemos começar a compreender o motivo de uma boa parcela do orçamento das empresas serem empregados na propaganda - nos últimos tempos, principalmente a visual. "Uma imagem vale mais que mil palavras" parece ser o mote das campanhas publicitárias em geral. Entre numa farmácia, por exemplo. O que veremos ali? Imagens de pessoas tranquilas, de bem com a vida... às vezes, isso já basta para a dor de cabeça ir embora! De qualquer modo, nossos olhos estão sempre saturados das mais diversas imagens, nas mais diferentes formas.

O maior impacto disso se vê no déficit de atenção da atual geração. A velocidade de informações obtida pela internet (alguém ainda passa horas consultando os livros da Barsa?) nos tornou distraídos...não temos mais paciência de ouvir um discurso, uma pregação que demore um pouco mais, e muito menos de focar no que é relevante.

Estamos vivendo um tempo de distração.

Há uma luta intensa pela nossa atenção, e nós nem ao menos percebemos isso. Uma das maiores perdas neste processo é que não conseguimos discernir as oportunidades de Deus...

Kairós retratado num afresco do séc. XVI
A maioria de nós, cristãos, talvez espere acordar com um coral de anjos, ver os céus abertos no café da manhã e talvez, quem sabe, ser arrebatado ao terceiro céu quando chegar o kairós de Deus em nossas vidas. Mas não é assim que as coisas funcionam (ainda que preferíssemos...). A grande questão é que as oportunidades de Deus estão muitas vezes disfarçadas nas coisas mais comuns de nosso dia a dia... Poderíamos imaginar que um banho, uma árvore, um ato de generosidade poderiam mudar a trajetória de uma vida?

Certamente não...pois andamos distraídos demais para perceber isso! Mas ouse pensar em coisas comuns sendo transformadas em extraordinárias! Aliás, nosso Deus é especialista nisso: em transformar o comum em extraordinário!

"Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes;" 1Co 1.27
O comum se tornando extraordinário - vejamos algumas ações do Senhor nas coisas mais triviais da existência humana:

Fato 1 - a cura de Naamã (2Rs 5.1-17)

Naamã era um general das forças Sírias. Alguém para o qual todos olhavam e esperavam as ordens...imagine a situação deste homem. Ser o centro das atenções onde quer que chegasse...e sofrer de lepra! Uma enfermidade que atingia em cheio sua aparência - seu cartão de visitas por onde quer que fosse. Um certo dia, uma serva judia fala a ele de um certo profeta de Israel o qual Deus usava para operar milagres...quem sabe desta vez alguma coisa, enfim, pudesse dar certo? Poder novamente mostrar-se como era sem reservas e olhares de repulsa? Por que não tentar? O que tenho a perder? Bom, ele resolve ir...enche sua caravana de presentes e vai direto ao rei de Israel que pensa tratar-se uma armadilha para dar ocasião à uma invasão síria... - "por acaso estás de brincadeira, Naamã? Sou eu Deus para vivificar você?" - responde o rei israelita. Mas o profeta Eliseu acaba sabendo do fato e manda chamar o general...

A narrativa continua e Naamã chega à casa de Eliseu, que envia um mensageiro ao general e o manda tomar um banho no Jordão! Imagine o que deve ter pensado Naamã... como se já não bastasse a vergonha de esconder-se por causa da lepra, o rei de Israel nem o recebe, muito menos o tal profeta? Chega desta brincadeira! Felizmente, seus servos o trazem de volta à razão e o convencem de que nada teria a perder ao obedecer Eliseu...era só um banho!

O final da história? O general pagão é curado converte-se a Deus, tornando-se um missionário na Síria. Que banho poderoso esse!

Naamã foi em busca de uma cura, encontrou uma oportunidade e voltou para casa com um novo coração!

Fato 2 - Zaqueu (Lc 19.2-10)

Zaqueu era um homem rico de Jerusalém que, certo dia, ouviu falar do novo rabino que pregava e dizia ser o Messias de Israel. Então, ao saber que Jesus estava em Jerusalém, ele vai atrás e procura ao menos ver aquele homem. Ele aproxima-se de uma multidão e, tendo sua visão impedida por ser de baixa estatura, uma decisão rapidamente preenche sua mente ao ver uma árvore no caminho: subir ou não subir na árvore? Preservar-me ou deixar de lado a etiqueta e finalmente conhecer o Mestre?

Zaqueu foi saciar sua curiosidade, encontrou uma oportunidade e trouxe salvação para si e sua família!

Havia uma multidão com Jesus, mas Ele entra na casa daquele que aproveitou a oportunidade!

Fato 3 - Rebeca (Gn 24.15-27) 

Abraão, preocupado em propiciar um bom casamento a seu filho, envia seu servo à terra natal para, no meio de seu povo, buscar uma esposa para Isaque. No caminho, o servo de Abraão ora a Deus e pede um sinal de qual seria a escolhida pelo Senhor para ser esposa do filho de seu patrão.


O interessante é que o sinal não foi algo sobrenatural, mas um gesto de gentileza em meio à rotina das mulheres. E Rebeca, no meio de seus afazeres diários, ao ir trazer água para seu lar, oferece ajuda àquele estranho e, por causa disso, entra na linhagem do Messias e se torna mãe de nações! Tudo por causa um um gesto de gentileza no meio de sua rotina diária...

Rebeca foi fazer um serviço doméstico, encontrou uma oportunidade e tornou-se precursora do Messias!

Perceba... as maiores bênçãos de Deus embaladas em nosso dia a dia...
 
Aliás, é de impressionar como o comum fazia parte da vida de nosso Salvador:

- Ele nasceu em uma noite comum. Apenas alguns pastores puderam ver algo de sobrenatural. Os importantes e figurões da época continuavam dormindo como se fosse uma noite como outra qualquer.

- Ele nasceu numa estrebaria; não num hospital de referência, cercado pela imprensa e com fotos nas principais revistas de fofoca de Jerusalém.

- Ele passou a infância e a adolescência como uma criança e um jovem comum - a Bíblia nada relata destas épocas da vida de Jesus.

- Sobre sua aparência, pense em como deve ter parecido o Mestre...não, nada das vestes de senador romano e cabelos loiros, olhos azuis...sim, isso mesmo: uma pessoa comum. A única descrição dEle fisicamente é encontrada num texto de Isaías (que nem o viu, pois escreveu sob inspiração divina...curioso isso, não?):

"Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos para que o desejássemos" Is 53.3

- para seu grupo de discípulos, Ele não escolhe os eruditos da época, nem os atletas ou guerreiros, mas homens comuns que estavam trabalhando em empregos comuns.

- Ele não vivia com o carro do ano, nem nas festas da sociedade e nem usava roupas da última moda, mas afirmava que:

"As raposas têm covis, e as aves do céu tem ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça". Mt 8.20

Seu legado para nós?

Ele não deixou templos construídos, nem herança, posses ou monumentos...não, nenhum retrato como conquistador.

Apenas um livro preto, sem figuras...aparentemente comum, mas na verdade, a Palavra que nos traz a vida eterna, o livro mais importante da história da humanidade!

Se você sempre teve problemas por se achar comum demais, nunca mais pense que isso é pouca coisa. Na realidade, é tudo o que Ele precisa para que Seu Nome seja glorificado!

Soli Deo Gloria, 

Daniel

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Antídoto contra a esterilidade espiritual

Quando se trata de sonhos e planos, muitos são os fatores que podem interferir no processo. Desde a falta de um impulso inicial para tirá-los do papel (se é que já estão nele...) até a concretização do mesmo. A despeito de todos os fatores naturais - que não são o foco neste momento - vale ressaltar a resistência espiritual realizada pelas trevas para que o "filho não nasça". Como se dá isso?

Vejamos o texto:

 "mas os filhos de Israel foram fecundos, e aumentaram, e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram, de maneira que a terra se encheu deles" Êx 1.7

Que princípios de crescimento encontramos aqui?

Jacó Lutando Com Um Anjo(Deus/Jesus)
Em primeiro lugar, os filhos de Israel frutificaram e aumentaram. É importante lembrar as condições onde isso ocorreu. A descendência de Jacó se tornara sobremaneira numerosa, com cerca de 3 milhões de pessoas ao tempo em que a escravidão se instalaria. Assim, destaca-se um conceito de uma semente que, uma vez fecundada, não poderia ser abortada. Naturalmente, uma vez plantados lá e sem serem perturbados pelos egípcios, os israelitas puderam "nascer"como nação. Sim, as condições eram propícias, e o filho realmente nasceu - e cresceu!

Em nossa vida pessoal, temos "sonhos" de Deus plantados em nós. Paulo faz menção a isto quando afirma que Deus "...opera em nós o querer e o realizar" (Fp 2.13). Ali, em nosso coração, eles foram plantados...e crescerem certamente. Não como gostaríamos, em muitas ocasiões, mas estão ali - de algum modo. Este é o primeiro ponto de alerta: se não nos atentarmos, podemos ficar parados já neste ponto. Se o diabo não consegue impedir a "fecundação", ele certamente ira investir que ela não se desenvolva e cresça! Temos aqui, portanto, o segundo ponto: aumentar. Entretanto, o processo não pára aí...

O texto continua descrevendo que os filhos de Israel multiplicaram e se tornaram sobremaneira fortes.  Estas duas expressões trazem o conceito de uma criança que, ao se desenvolver, ganha estrutura óssea. Veja que interessante: após a fecundação e o crescimento, é necessário a estrutura correta para um nascimento e crescimento saudáveis.

Naturalmente, onde o inimigo procura agir? Se não pode impedir a fecundação, ele ataca o nascimento! Sim, quantos projetos são abortados antes de nascerem? Interessante observar aqui as semelhanças com Moisés e Jesus - ambos tiveram também seus problemas ao nascer. Ameaças de morte, reclusão, e uma investida feroz de Satanás na tentativa de abortar os planos de Deus. Mas é claro, nada pode impedir o querer do Rei e o resto da história nós já sabemos.

Vale lembrar do mandamento dado ao homem recém-criado:


“Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Gn 1.28

Aqui novamente o mesmo processo - frutificar, aumentar/multiplicar, encher/crescer e ser pleno/maduro/pleno.

Nestas últimas fases, a investida é contra a maturidade. Traições, maledicências, desprezo... o força aqui é concentrada em impedir o processo de maturação de todo cristão. Muitos falham aqui - ok, sabemos que há algo a mais, buscamos e nos esforçamos. Conseguimos até mesmo certo "sucesso" nos empreendimentos, mas em algum ponto perdemos a mão...e as coisas ficam pelo caminho...

Este é ponto que precisamos nos atentar: há um processo entre a fecundação e a maturidade. Não é algo que acontece da noite para o dia - e como o tempo geralmente é longo (para nossos padrões, acostumados como estamos em uma cultura fast food), o diabo pode levar grande vantagem.

Deste modo, a vitória e a realização só encontramos quando vivemos a suficiência das Escrituras, e nossa dependência está inteiramente colocada nEle.

Lembre-se de Moisés...da escravidão da nação de Israel... de Jesus. O inimigo certamente tentará, mas o mesmo que nos plantou uma semente incorruptível é poderoso o suficiente para lhe dar o crescimento e a maturidade. Creia nisso! Deixe de lado toda autonomia carnal, e deixe a graça do Senhor capacitá-lo às mudanças tão esperadas!

Soli Deo Gloria

Em Cristo,

Daniel

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A desilusão que Jesus nos traz...*

"LEMBRA-TE do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento" Ec12.1


Existem certas coisas em nossas vidas que são inevitáveis: um compromisso que esquecemos, uma palavra que não honramos, planos que não se realizam, surpresas que nos emocionam...e a lista é longa. Também existem aquelas onde temos um certo grau de controle: um planejamento financeiro, um curso que fazemos, uma viagem nas férias...e a lista também é longa.

Mas dentro das inevitáveis, existem aquelas que gostaríamos de riscar da lista. Elas são estranhas, indesejáveis e, por mais que nos esforcemos em ignorá-las, sua presença parece rodear como um intruso nossas vidas. O grande problemas é que não se trata de um intruso, mas de um companheiro de jornada. Seu nome? O dia mau.

Ícone de Salomão em monastério russo
O texto acima citado, escrito por Salomão, rei de Israel entre os anos 971 a.C. e 931 a.C. traz uma reflexão importantíssima sobre este dia presente nos calendários de todos os homens. O livro de Eclesiastes (Kohelet - קהלת) é o produto da percepção deste rei já ao final de sua vida, revelando muitas de suas impressões sobre o cotidiano da vida humana, suas desilusões e a incapacidade de lidar com o inesperado, com aquilo que não temos o controle. E o versículo começa apontando para uma época específica da vida de todos nós: a juventude. Veja que Salomão, ao contrário do que pode se entender em uma leitura superficial, não está falando com a mocidade de seu reino. Mas ele aponta uma época comum a todos nós. Uma época em que pensamos na jovialidade como uma companheira para toda vida, onde podemos dormir poucas horas e enfrentar o rigor do dia seguinte cheios de energia. Uma época onde os sonhos e planos povoam nossas mentes, fazendo-nos imaginar como estaremos dali a 20, 30 anos. Uma época onde a velhice parece distante. Dores nas costas? Artrite? Falhas na memória? Nem pensar!

Isso é coisa de terceira idade!


Mas o tempo passa....para todos! Por mais que tenhamos a ilusão, no frescor da juventude, de que sempre seremos assim, os dias passam...e eles inevitavelmente trarão o mal consigo – coisas inesperadas que teremos de enfrentar.Salomão usa aqui uma palavra que traz a idéia de sermos " atingidos" pelo dia mau. Enfrentamos aqui a realidade de que nossos dias de alegria, felicidade têm prazo. Existem dias bons, de alegria e contentamento...mas existem os maus dias...

Qual o sentimento descrito ali? Não tenho neles contentamento...


Isso me faz lembrar das palavras de Jesus, e de como Ele nos leva a encarar a vida de maneira sóbria e real, não como um utopia. Observe Suas palavras:



Não andeis solícitos, pois, pelo dia de amanhã, porque amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. Mt 6.34



Jesus ensina a todos nós, independente de posição social, financeira, cultural, a compreender que temos todos a mesma medida disponível de tempo. Creio que não conseguimos lidar com mais do que 24h por dia; de nada adianta pré-ocuparmos com o dia do amanhã, pois não sabemos se estaremos vivos nele...e nem com o ontem, que já passou e não podemos vivê-lo de novo? O que nos sobra? O hoje...

E Jesus continua afirmando que basta a cada dia o seu mal. Sim, bem gostaríamos que Ele tivesse dito bem, mas Ele disse mal. Um dia que não respeita como estamos, onde estamos e com quem estamos. Ele simplesmente nos atinge com um tsunami e desordena nosso interior.

As certezas já não são mais....o equilíbrio já não é mais... e não sabemos o que fazer...
Por isso, aqui Jesus é realista conosco ao nos desiludir a respeito do cotidiano. E porque falar aqui em desilusão?

Por que se separarmos a palavra teremos o prefixo des- ligado à palavra ilusão.
Des é um prefixo que significa “Negação, ação contrária, separação” , e ilusão refere-se ao que foi abandonado. Ou seja, que ilusão deixamos para trás? A utopia de uma vida sem problemas e adversidades. Jesus nos traz uma vida real, e não uma filosofia utópica, de viver entre as nuvens...

Em outras palavras, Jesus nos traz a realidade da vida humana, seus altos e baixos. É importante ressaltar que o fato de ser cristão não é um passaporte para a felicidade, longe de adversidades e problemas.  O foco trazido por Jesus é o hoje – aquilo que temos em mãos. O passado não podemos tocar, assim como o amanhã. Devemos planejar, claro, mas nada além disso. Só amanhã saberemos o que vai nos acontecer...

Mas como enfrentar momentos assim? Onde colocar a âncora de nossa existência? 

Creio que aqui está a resposta que tanto precisamos:

"Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não passsarão" Mt 24.35

Mesmo aquilo que parece eterno, os céu que nos cerca e a terra que pisamos todos os dias, um dia não estarão mais aqui. Estes elementos vão passar...

Mas as palavras de Jesus não...estas permanecem para sempre...

E por isso, podemos ter a certeza de que "...que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo". Fp 1.6

Graças a Deus! Nos dias mais sobrios e escuros de nossas vidas, quando a parece distante e há escuridão à nossa volta, Ele continua trabalhando...e tudo, enfim, irá redundar em glória para Ele!

Crendo na esperança de Sua Palavra imutável, 

Daniel 



* baseado num texto do blog do meu amigo Eric Jóia

terça-feira, 22 de março de 2011

A tragédia do Japão e a tragédia de todos nós

"Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não passsarão" Mt 24.35

Talvez não tenhamos a dimensão do alcance e profundidade das palavras de Jesus. Mas em momentos como esses, onde o mundo presencia uma nação sendo arrasada pela força da natureza, todos nós enfrentamos o desafio, ainda que não queiramos encará-lo de frente, da brevidade e fragilidade da vida humana.

Uma palavra tem sido manchete nos jornais do mundo inteiro: tragédia. Qual seu real significado?

Segundo a Wikipédia , Tragédia (do grego antigo τραγῳδία, composto de τράγος "bode" e ᾠδή "canto") é uma forma de drama, que se caracteriza pela sua seriedade e dignidade, frequentemente envolvendo um conflito entre uma personagem e algum poder de instância maior, como a lei, os deuses, o destino ou a sociedade. 


Dionísio - detalhe de mosaico em Antioquia
Suas origens são obscuras, mas é certamente derivada da rica poética e tradição religiosa da Grécia Antiga. Suas raízes podem ser rastreadas mais especificamente nos ditirambos, os cantos e danças em honra ao deus grego Dionísio (conhecido entre os romanos como Baco). Dizia-se que estas apresentações etilizadas e extáticas foram criadas pelos sátiros, seres meio bodes que cercavam Dionísio em suas orgias, e as palavras gregas τράγος, tragos, (bode) e ᾠδή, odé, (canto) foram combinadas na palavra tragoidia (algo como "canções dos bodes"), da qual a palavra tragédia é derivada. 


Ou seja, ela faz menção ao velho dilema da incapacidade humana de lidar com forças alheias à sua vontade e que tem profunda atuação em sua existência. Como tratar com o que não podemos controlar? Como viver quando aquilo aparentemente inabalável desfaz-se aos nossos pés?

Com o progresso da ciência e do conhecimento, a humanidade tem progredido no conhecimento das forças que regem a natureza. Temos sistemas de alerta contra tsunamis, sensores que detectam o movimento das placas tectônicas e a erupção de vulcões. Olhamos para o céu e procuramos asteróides que possam eventualmente estar em rota de colisão com a Terra. Porém, os fatos mostram que por melhor que estejamos preparados, sempre existirá algo além do alcance de toda ciência criada nos últimos anos.

Do mesmo modo, em um nível menor, temos as mesmas dificuldades com o novo, a mudança. Aliás, quem já mudou pelo menos uma vez de endereço sabe como isso é complicado! Achamos em nossos armários coisas há muito guardadas que nem sabíamos mais existir sobre a Terra! Exageros à parte, toda mudança gera um desconforto e nem sempre estamos dispostos a lidar com isso. Por mais que nos esforcemos, temos a tendência (uns em maior grau que outros) de entrar em uma zona de conforto, de adaptar-se ao cenário e ali estabelecermos nossos fundamentos. Para uma mudança, ainda que planejada, é necessário um esforço extra de nossa parte. Se isso já é complicado, equacionar o imprevisto requer de nós a habilidade de lidar com a insegurança e o medo da nova situação.

Interessante pensar que Jesus diz que "...os céus e a terra passarão...". Veja que são elementos comuns a todos e presentes no nosso cotidiano. Pisamos sobre uma terra que cremos ser estável e sabemos do ar que existe à nossa volta. Mas Jesus nos chama a atenção de que estes elementos, ainda que pareçam sólidos e constantes, um dia hão de passar. No caso do Japão, por mais bem preparados que estivessem para um acontecimento assim, houve um espanto pela extensão dos estragos causados. Áreas longe da costa foram atingidas pela força das ondas. Lugares onde se pensava estarem seguros não foram suficientes para livrá-los da tragédia.

Por isso, é preciso encarar o fato de que apenas em um lugar podemos encontrar segurança: em Deus e em Sua Palavra. Diante de um mundo em mutação, de uma sociedade com valores tão efêmeros, de pessoas que hoje estão e amanhã podem não estar mais, no que confiar?

Onde podemos fundamentar a nossa existência?

Preste atenção ao alerta de Jesus. As coisas que aparentemente são estáveis, eternas...podem não ser. Não devemos colocar nossa confiança em posses, saúde, em outras pessoas... só ha um lugar onde verdadeiramente podemos depositar a nossa vida - na Palavra de Deus!

Quero finalizar com um brilhante enunciado de Charles H. Spurgeon :

"Se não podemos crer em Deus quando as circunstâncias parecem ser contra nós, nós não cremos nEle em absoluto"

Daniel